quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

POLÍTICAS E OVELHAS NEGRAS

Os últimos meses têm sido pródigos em péssimas notícias para as polícias.

Não é apenas a subida exponencial dos assaltos e dos crimes de sangue a dar uma má imagem dos agentes da autoridade, sob a fama de estarem metidos nas esquadras em funções burocráticas em vez de priorizarem a caça a grupos de bandidos que engrossam a cada dia que passa.

O argumento segundo o qual lhes faltam meios e sobram nos tribunais leis demasiado vulneráveis nos argumentos pró-prevaricadores está longe de modificar a opinião geral.

As polícias atravessam, de facto, um período crítico, dispondo também no seu interior de razões fundas para a degradação da sua imagem pública.

Há, aliás, todo um somatório de casos negativos noticiados a envolver agentes de polícia - o facto de ontem terem sido condenados três elementos da PSP a penas de prisão efectiva entre os seis e os seis anos e meio por co-autoria de três crimes de roubo, um de sequestro e outro por posse de arma proibida é apenas mais um. Mas dispondo da vantagem de todos ficarmos a saber.

Aos polícias pede-se, naturalmente, um impecável exercício de cidadania. Nada nem ninguém é capaz de garantir, no entanto, a inexistência de desvios no seu seio, seja por razões de pura genética seja por avidez provocada por um estatuto de autoridade muitas vezes levado longe de mais - e as razões económicas jamais são um álibi.

É desejável mas impossível exigir a existência de uma corporação sem máculas. As ovelhas tresmalhadas pululam por todas as profissões, dos médicos aos engenheiros, dos arquitectos aos jornalistas - e neste caso também há histórias bem conhecidas, como a passada há uns anos quando um repórter regressou à Redacção na posse das ocorrências registadas numa esquadra e nelas constava o nome de um jornalista apanhado a surripiar uns produtos de supermercado, o que levou o director da publicação a ficar de nervos em franja quando obteve do dito cujo uma explicação falsa como Judas: sim, tinha sido apanhado, mas apenas porque estava a preparar uma reportagem sobre o sistema de segurança do referido supermercado...

Colocado pois na posição correcta, o essencial, depois de mais este caso de polícias condenados, é destacar o esforço de transparência e o somatório de punições para retocar, ou credibilizar, a imagem da PSP.

Os tempos actuais são difíceis. Exigem esforços suplementares perante um quadro de restrições. E a eles não escapa a PSP, a viver por estes dias a primeira fase da sua história sob a Direcção Nacional de um oficial saído da sua própria escola de formação e em quem os sindicatos de polícia depositam grande esperança - o superintendente Paulo Valente Gomes.

Perante pressupostos errados, sempre que um polícia é apanhado nas malhas da lei há uma reacção de choque. Percebe-se. Impõe-se, no entanto, fazer uma outra leitura, bem mais positiva: a cada infractor apanhado o país fica mais perto de ter agentes de autoridade irrepreensíveis.

Fernando Santos, aqui