Temos para nós que, se o povo está de mal com o governo, não será só por ser mais troikista que o FMI ou a senhora Merkle, mas porque não sabe explicar-se, não tem mensagem segura.
Pior, por vezes, fala a duas vozes e mais verdade fora do que cá dentro. Na Alemanha, Gaspar fala baixinho da necessidade de mais tempo e dinheiro.
Por cá, tudo bem. Só mesmo se o mal da Grécia for a nossa lepra. Alguns andam aos papéis, não concertam as mensagens.
Depois, sai asneira grossa. Além disso, Passos Coelho por vezes envereda por uma linguagem rude e ofende o povo, que se já geme baba e ranho de tanta austeridade e lágrima, ainda tem de ouvir o que o diabo não quer. Rebaixa-o, chama-lhe de piegas. (Piegas é a sua prima). E diz outras coisas: [temos se cumprir] “custe o que custar”, e “nem que seja preciso morder a língua”.
Se custar a nossa pobreza, andar de rastos e a viver de esmolas, não importa, é bom para o governo que faz figura lá fora, fazendo figura de urso ou de coveiro cá dentro. Isso de morder a língua… na cadeia deveria ser o castigo para todos os tachistas e burlões, ladrões e palhaços, que nos puseram neste mísero estado.
Isto é, o governo descredibiliza-se pela boca, mas também morre pelo coração que faz com que não acabem mais as nomeações dos amigos de facção e peito, não acabem fundações e institutos e tanta outra coisa, que mexe com a clientela. Não acabam de vez os tachos. E como alguns já estão a vê-los fugir, toca a ver se apanham o do vizinho, caso de Valentim Loureiro, espreitando a Câmara do Poro.
Os que os agarram com unhas e dentes é que não são nada piegas. Têm outros nomes. Nem tão pouco P. Coelho que, antes de ser governo, era administrador de mais de meia dúzia de empresas de Ângelo Correia. Ainda que o nosso povo seja burro de carga, e tem-no sido ao longo da história, não é piegas. (Piegas é a prima dele!).
Dizer isso ofende mais que muito, como a falta de justiça. D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, em guerra com o ministro, disse, há dias, que o dinheiro em Portugal tem sido usado “para muito disparate e muita injustiça” e para o favorecimento de uns tantos.
Nada mais certo e perigoso.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 16 de Fevereiro do 2012