Ainda não é um distúrbio oficial, mas calcula-se que possa afectar até 8% da população. Investigadores chineses provam danos cerebrais.
Em 2003, a IBM despediu James Pacenza (54 anos), ex-combatente no Vietname, alegadamente por aceder a sites pornográficos no trabalho. Pacenza foi a tribunal com um pedido de indemnização de 5 milhões de dólares, invocando discriminação de acordo com as leis de incapacidade dos EUA.
A visita a um chat de adultos durante o horário de expediente, justificou, tinha a ver com o stress pós- -traumático de que sofria e que se poderia manifestar pelo vícios do sexo na internet. O caso, ganho pela IBM, é um dos mais citados da história da desordem de adição à internet, um distúrbio psicológico cada vez mais consensual mas não reconhecido formalmente. Ontem, investigadores chineses publicaram novas provas de que as pessoas com este tipo de dependência têm o cérebro alterado em regiões associadas às emoções e atenção.
O cenário é semelhante ao encontrado em dependentes de substâncias como cocaína, ópio e anfetaminas, o que poderá fazer com que a internet seja considerada um agente causador de dependência. Os cientistas da Academia Chinesa de Ciências revelam, num artigo da revista “PLoS One”, ter descoberto danos ao nível da integridade da massa branca, a substância do cérebro onde estão localizadas as estruturas responsáveis por enviar informação rápida entre as áreas cerebrais, encéfalo, medula espinhal e restantes partes do corpo, explicou ao i João Malva, investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra.
Através de ressonância magnética, os investigadores compararam cérebros normais com os de 18 adolescentes diagnosticados com adição à internet através de questionários psicológicos. Descobriram défices generalizados ao nível da massa branca em áreas do cérebro associadas ao processamento de emoções, atenção, tomada de decisão e controlo cognitivo. A ideia de que existem alterações cerebrais nestas pessoas, neste caso potencialmente reversíveis, vai ao encontro de estudos anteriores que sugeriam uma diminuição da massa cinzenta. Ainda assim, como referem os autores do estudo, são poucos os trabalhos de neuroimagem nesta população, embora cada vez haja mais propostas de questionário para diagnóstico.
O psiquiatra nova-iorquino Ivan Goldberg foi o primeiro a referir esta dependência, em 1995. Entretanto foi proposta para o manual de diagnóstico de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DMS), a referência a nível internacional que terá uma nova edição em 2013, mas não reuniu apoio. Embora não apareça na versão que está em discussão, há ainda a possibilidade de ser incluída, junto com a adição a videojogos, no grupo de desordens comportamentais ligadas à procura de recompensas, confirmou o i.
Uma revisão da literatura científica sobre o tema, publicada em 2010 pelo cientista israelita Aviv Weinstein, sugere que a prevalência desta adição nos EUA e Europa andará entre os 1,5% e 8,2% da população, embora os critérios de diagnóstico (quase sempre académico) variem de país para país. O quadro é associado a outros problemas psiquiátricos como depressão e défices de atenção. Sugerem-se ainda três subtipos de adição à internet: jogos online excessivos, preocupações sexuais e emails e mensagens.
Marta F. Reis, aqui