quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

OUTRAS VIAS

Ponto de ordem: já todos sabemos que sem crescimento não conseguimos sair da alhada em que nos metemos. Sem crescer não conseguiremos pagar as dívidas acumuladas, pública e privada, e empobreceremos.

Sabemos, também, que não vai ser fácil por razões internas (limitada qualificação de empresários e trabalhadores, estrutura produtiva pouco competitiva, dependência do Estado, sistema de justiça iníquo e ineficaz, inércia e resistência à mudança) e externas (conjuntura económica pouco animadora, instabilidade e inabilidade política, concorrência).

O problema é a dívida e o seu custo. Talvez seja, também, o nível de vida: não somos pobres (75% dos países estão abaixo de nós), mas também não somos ricos. Não fora isso e o país poderia pôr-se a questão de saber se não poderíamos viver relativamente bem com o que já alcançámos, desde que o redistribuíssemos um pouco melhor, de modo a evitar fenómenos de pobreza. Pela força das circunstâncias, não temos essa escolha. Justifica-se, ainda assim, olharmos, por uma vez, para um país, outrora modelo de crescimento, e que pouco ou nada tem crescido na última década e meia. Refiro--me ao Japão. É certo que tem um rendimento médio cerca de 50% superior ao nosso, mas o "país do sol nascente" tem sabido gerir esta estagnação com uma mestria asiática, sem convulsões, criando mecanismos de apoio aos mais velhos e desfavorecidos, garantindo as condições indispensáveis para que haja a harmonia e paz que se reflectem numa qualidade de vida que vai muito para além dos aspectos materiais com que continuamos obcecados.

Antes desta crise, o modelo seguido em Portugal foi induzindo um crescendo de desigualdade territorial e social que pôs uma grande pressão sobre a função redistributiva do Estado. Esses recursos teriam melhor utilização se fossem encaminhados para fins produtivos mas as disparidades consumiram-nos. A redistribuição foi pretexto para o aumento da presença, tutelar e interventiva, do Estado ela própria consumidora de mais recursos. Uma história sem fim, sobretudo se as medidas com que se procura atacar o défice e a dívida são indutoras de um aprofundamento da desigualdade. Soube--se, há pouco, que teria sido assim, até meados do ano passado, no que toca à dimensão social. Arriscaria dizer que as conclusões não seriam muito diferentes se olhássemos para o território. O que é uma contradição nos termos. Ao aprofundar a desigualdade, ostracizando pessoas e regiões para além do limiar da dignidade, o Estado cria a si mesmo responsabilidades para as quais tem de canalizar os fundos que lhe faltam noutros níveis.

É neste contexto, de algum desânimo e tensão latente, que devem ser lidas as reacções às decisões da família Soares dos Santos. O percurso pessoal e empresarial do seu patriarca, Alexandre, faz dele uma personalidade inspiradora. Lutador, corajoso, frontal, determinado, empreendedor. Um líder. Uma fonte de esperança num modo de ser diferente, sem subserviência ao Estado. Por isso, não obstante a sua legitimidade, a decisão desilude, desampara, soa não apenas a descrença como a desistência. Revolta. Legitima procedimentos dos que, não podendo acautelar o seu património desta maneira, encontram nos expedientes, mais ou menos legais, uma saída. Para já não falar na saída propriamente dita: a emigração começa a ser, para muitos, a melhor maneira de proteger o seu principal activo, as suas competências.

Governar, tal como gerir, é procurar fazer acontecer o que, de outro modo, não sucederia. Soares dos Santos apontou razões para a sua decisão. O melhor que Passos Coelho teve a dizer foi que a compreendia. Não se esperava que a criticasse mas, pelo menos, que desafiasse: se formos capazes de mudar algumas das condições fiscais, regressa?

O Governo não está a ser capaz de ter um discurso mobilizador. É altura de amplificar os bons exemplos dos que vão lutando e medrando sem esperar por ele. Se souber ultrapassar o imediatismo sensacionalista, a comunicação social tem uma palavra a dizer. Fica o desafio!

Alberto Castro, aqui