segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O NOVO MARQUÊS DE POMBAL

Ando nestas coisas do jornalismo político há demasiados anos para não conseguir ver os sinais que me chegam das conversas que tenho no exercício da minha profissão.

Espanto-me com a frequência com que me falam de Miguel Relvas, mas não me surpreendo com o poder que lhe atribuem.

Marcelo Rebelo de Sousa, que sabe destas coisas a dormir mais do que eu acordado 24 horas por dia, não esperou por um mês de Governo para alertar para o poder conferido a Miguel Relvas.

O despotismo esclarecido com que Sebastião José de Carvalho e Melo se tornou mais importante, na história de Portugal, que o seu rei D. José I é muito similar ao pragmatismo esclarecido com que Relvas divide a influência com o seu primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.

Não faço juízos de valor sobre as decisões que Miguel Relvas já tomou ou sobre todas aquelas que vai ter de tomar pelo poder que lhe foi conferido. Não o faço, mesmo tendo opinião sobre cada uma das matérias que tiveram a sua assinatura, porque penso que não é a casualidade que deve estar sob o escrutínio permanente. Por esta altura, importa que olhemos mais de perto para o poder que tem um só homem neste país.

Como o marquês de Pombal, também Miguel Relvas é polémico, tem uma legião de adeptos e vai coleccionando inimigos. Se o SIS me tiver colocado um micro na lapela, ou estiver atento aos meus telefonemas, saberá quem é contra ou a favor do ministro. O Governo ainda não fez um ano e para o povo o ministro que conta é Vítor Gaspar, mas para a corte dos negócios é de Miguel Relvas que se fala.

Como o marquês, também Relvas sabe que o que importa é aproximar Portugal das mais altas performances económico-financeiras. Também ele sabe que o que importa é fazer os melhores negócios. Mas, como é um pragmático esclarecido, Miguel Relvas sabe que a política se faz hoje menos com ideologia e mais com relações pessoais. A confiança é, afinal, o motor da economia.

Não vem mal ao País por ter, entre os seus executivos, um homem esclarecido que fez da sua experiência política uma forma pragmática de governar. Do que se sabe, Relvas não brinca em serviço. Está tão perto do céu como do inferno, basta saber de que lado estão a olhar os seus interlocutores. E tanto faz que falemos da sociedade civil como dos políticos, oposição e governantes incluídos.

Para Miguel Relvas, o ministro deste Governo mais escrutinado pela comunicação social, esse escrutínio será sempre uma forma de o libertar, porque ninguém poderá ser feliz com tanto poder, se não souber que os seus concidadãos estão cá para o alertar para eventuais excessos. Do mesmo modo que receberá todos os aplausos se souber utilizar o poder em defesa do bem comum.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo acordo ortográfico

Paulo Baldaia, aqui