terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ERA UMA VEZ...

NINGUÉM É SEMPRE PERFEITO

No tempo em que ainda não havia luz eléctrica, mas pouco faltava, quem quisesse trabalhar ou ler depois do Sol posto alumiava-se com candeeiros de petróleo.

Os mais pobres, sem dinheiro para o petróleo, usavam velas de sebo.

Era o caso do poeta da nossa história. Estava ele, à noite, a escrever uns versos, iluminado apenas pela luz do luar e pela chama incerta de uma velinha a finar-se, quando uma nuvem interceptou a luz da Lua.
- Ai! - lamentou-se o poeta. - Não tarda que a vela acabe. Como vou eu conseguir terminar o poema?

Abriu a janela e gritou:
- Vento, se és meu amigo, afasta a nuvem, para que o luar volte a iluminar-me.

O vento terá ouvido o pedido e rodopiou numa súbita ventania. Tanta foi que soprou a vela do poeta. Ficou o pobre às escuras.
- Vento, tu não percebeste o que te pedi - irritou-se o poeta. - És um desastrado.

Do céu carregado de nuvens começou a cair uma valente chuvada.
- Pronto. Não precisas de chorar. Ninguém é sempre perfeito - disse o poeta ao vento.

Fechou a janela e, resignado, foi para a cama às apalpadelas. Ficou o poema em meio. Não se perdia grande coisa, que o poema valia pouco.

Ninguém é sempre perfeito...

António Torrado  e Cristina Malaquias, aqui