Vejo e oiço muitos amigos católicos a usar uma linguagem agressiva contra a maçonaria, aproveitando a hora de fraqueza do inimigo, aproveitando a vaga populista do "os maçons são todos uns bandidos".
Parece existir, aqui e além, um doce sabor a vingança, um ajustar de contas, um payback time is a bitch, freemason. Bom, eu gostava de relembrar que esta lógica de diabolização colectiva é a mesma que é usada de forma sistemática contra os católicos. Sim, é a mesma.
Fazer caricaturas do Opus Dei é mato. É a piada n.º 1 de quem quer fazer humor em Portugal. E a diabolização do Opus Dei, ao estilo de Dan Brown, é a regra n.º 1 de quem quer cronicar em Portugal. Aliás, verdade seja dita, a maçonaria está apenas a provar nestes dias aquilo que o Opus Dei prova sistematicamente há anos e anos: uma diabolização e/ou gozação constantes.
E o que dizer da onda populista do ano passado que transformou a palavra padre num sinónimo de pedófilo? E o que dizer do sistemático ataque às crenças católicas devido ao pressuposto atávico de que catolicismo é sinónimo de obscurantismo? Ora, os católicos que se queixam - e com razão - desta cultura anti-católica não podem agora usar a mesma desonestidade moral e intelectual contra a maçonaria. Até porque ser o Marquês de Pombal ao contrário é uma coisa pouca cristã.
Nestas questões de crenças e de fé, a atmosfera pós-moderninha é assim mesmo: é dada à má-fé, ao cinismo engraçadista. O típico sujeito pós-moderninho só sabe fazer uma coisa perante uma crença forte: gozar com ela. Não interessa se a crença é maçónica ou católica. Se existe uma crença, se uma pessoa acredita em algo superior a si próprio, o pós-moderninho, como bom cãozinho de Pavlov, gozará ou diabolizará essa pessoa, e não nunca irá compreender outro tipo de abordagem.
Há uns tempos, escrevi uma coluna sobre um filme que retratava o fundador do Opus Dei. Nesse texto, procurei compreender e não gozar com Escrivá. Ora, com a previsibilidade pavloviana do costume, recebi logo uns mails que diziam coisas como "você, uma pessoa formada no Opus Dei, bla, bla, bla...". Perdão? Só porque tentei compreender e não gozar com o Opus Dei, muita gente assumiu que eu era do Opus Dei. Como é óbvio. Naturalmente. Que mais poderia ser? Da mesma forma, muita gente vai desconfiar que eu sou um aprendiz da maçonaria só por causa deste e de outros textos. Moral da história? Neste tempo pós-moderninho, católicos e maçons deviam perceber que são mais parecidos do que pensam.
Henrique Raposo, aqui