domingo, 15 de janeiro de 2012

AS NOMEAÇÕES E OS SEUS RISCOS POLÍTICOS...

1.Estamos a assistir à curiosa e habitual novela das nomeações de influência política para cargos em órgãos sociais de empresas, de que são exemplos mais marcantes - e mediaticamente mais explorados – as nomeações para o C. Geral da EDP e para o C. Administração das Águas de Portugal.

2.A agitação é muito grande e mesmo figuras públicas da área do Governo, como é o caso do Dr. Marques Mendes, discordam abertamente de algumas das escolhas feitas.

3.Trata-se de um problema que não é novo, que de resto se repete ciclicamente com a chegada de um novo Governo de cor política diferente do cessante.

4.Há sempre um enorme “exército de reserva” nos partidos chegados ao poder, e na sua órbita de influência - a famosa “clientela partidária” – constituído por elementos desejosos (alguns famintos, mesmo) de se apoderarem dos despojos que a vitória política lhes pode proporcionar, que são os lugares de nomeação política na administração pública (segurança social e saúde, por exemplo) e nos órgãos sociais de empresas públicas ou de outras para os quais o Estado tem o direito ou poder de nomear membros.

5.Essa gente é mais ou menos conhecida, ou pertence aos aparelhos partidários ou aparece normalmente a frequentar as reuniões partidárias, ainda em tempos de oposição, quando o “cheiro a poder” começa a ganhar intensidade...

6.Só que, desta vez, o ambiente de intensa crise em que o País se encontra mergulhado torna este exercício muito mais visível e delicado, alvo fácil de crítica e destruidor de CAPITAL POLÍTICO, por isso parece recomendável que o Governo adopte especiais cautelas nesta matéria...tem-se a noção generalizada de que se está a “rapar o fundo do tacho” e isso socialmente é muito censurável ...

7.Com efeito, a nomeação de pessoas com carreira essencialmente política para cargos empresariais, com a simultânea divulgação das condições de remuneração desses cargos, em alguns casos principescas, um momento de tão grave crise em que são exigidos sacrifícios muito significativas a uma boa parte da população, arrisca-se a derreter, rapidamente, o CAPITAL POLÍTICO de que o Governo tanto carece para prosseguir a ciclópica tarefa de corrigir os desequilíbrios da economia e das finanças públicas...

8. ...e não é preciso ser um génio para perceber que com esse CAPITAL POLÍTICO derretido ou em rápido derretimento, o risco de os objectivos fundamentais do Programa de Assistência Económica e Financeira virem a derrapar pode tornar-se incontrolável...
 
Tavares Moreira, aqui