Nunca o terreno foi tão propício à propaganda do PCP e do BE e de todos os agitadores profissionais.
Dão-se bem no lamaçal, em que se transformou o país, dão-se bem na miséria e na pobreza instaladas. As águas turvas dão para agitar bandeiras e ideologias, fora de prazo, promessas de salvação do país. Também se dão bem neste estendal de chagas sociais (desemprego, trabalhadores em risco, cortes nos subsídios, carestia de vida) os sindicalistas (CGTP, braço do PCP na rua, e UGT, que não quis perder o comboio).
Que ganharam os trabalhadores, que ainda não compreenderam que não temos escapatória? O país empobreceu.
As greves andaram por aí, de mãos dadas com o batalhão dos indignados. É um direito que cabe a todos. Eu me indigno há muito contra as injustiças e os assaltos ao bolso dos pacatos cidadãos, ao meu bolso também, contra o circo e os palhaços, contra os salteadores e os que abicham reformas escandalosas sem corar. Mas não vou para a rua. E sou contra as greves, bem pouco democráticas, quando abrangem os transportes (CP, TAP, Transtejo), que são um dos maiores cancros e sorvedouros dos nossos dinheiros, impedindo que largos milhares não possam trabalhar, quando não são os piquetes a não permitirem que outros o façam, lembrando os tempos do PREC de má memória. E são exactamente as empresas públicas falidas que mais aderem, quando só vamos lá com mais trabalho e menos vesgo sindicalismo e com a reestruturação deste sector, o mais rápido possível.
Vergonha também não teve Mário Soares que lançou, com outros, um “manifesto rumo ao futuro” e ainda teve a lata de dizer que, embora lançado na véspera, não tinha nada a ver com greve. Pois, não, que inocência! Se tivesse vergonha, calava-se. Ele é um dos que beneficiou com o regabofe que derrotou o país. Além das benesses, criou uma Fundação a comer milhões à mesa do Orçamento, e já se esqueceu que os seus governos foram o que foram, sofríveis.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 30 de Novembro de 2011