Os gregos ameaçaram seguir na direcção do abismo, arrastando com eles quem lhes lançou a corda (para os ajudar na perspectiva de uns e para os enforcar na perspectiva dos outros), e o mundo tremeu.
Afinal, a política e o voto do povo ainda assustam o capital. Foi um desastre no sistema financeiro cotado em bolsa.
Depois, o Governo grego recuou e o G20 respirou de alívio e voltou a decidir que faria de conta que estava a fazer alguma coisa.
Os gregos estão convencidos de que o mundo inteiro se uniu para os tramar, mas é o mundo inteiro que está tramado porque eles chegaram onde chegaram e nós andamos lá perto. A culpa nem é exclusivamente nossa. É até mais do sistema de usura em que assenta o financiamento das economias. Adiante, conhecíamos as regras e fizemos asneira ao colocar- -nos nas mãos dos usurários. Agora, nós e os gregos temos de pagar o que devemos e exigir líderes capazes de mudar as regras.
Nós, que tão mal dizemos dos políticos de uma forma geral, temos de exigir que o primado da política volte a prevalecer. São precisas lideranças nos países que, executando em nome do povo que os elegeu, saibam exigir do capital respeito por quem trabalha. É bem mais fácil do que parece. Acabem com os paraísos fiscais, regulem e fiscalizem como deve ser a actividade financeira. Garantam, no fundo, que quem empresta dinheiro ganha dinheiro, mas sem usura.
Precisamos de líderes mundiais que falem e decidam em nome do povo, que não se acobardem perante a força do sistema financeiro. Mas este caminho nunca poderá ser feito colocando uns contra os outros. Se quem gere o capital tem de mudar de vida, também quem precisa desse capital, e tem de o pedir emprestado, vai ter de mudar de vida.
Assim sendo, convém que paremos uns minutos para pensar nas consequências desta usura. O capital reprodutivo é odiado da mesma forma que o capital especulativo, mas na verdade quem investe capital na produção é tão vítima da usura como o povo trabalhador. Os empresários, por esse mundo fora, não retiram prazer da necessidade de reduzirem os custos de produção para compensarem as consequências do aumento dos custos do capital.
A memória é que não pode ser tão curta. Foi para resolver o problema da crise do subprime, resultado de um sistema financeiro sem controlo, que os Estados começaram a despejar dinheiro emprestado nas economias nacionais. Com essa solução pouco milagrosa chegamos à crise das dívidas soberanas. E aqui estamos, sem ter alterado nada do que os líderes mundiais, com Obama, Sarkozy e Merkel à cabeça, garantiam que ia mudar. Há três anos, prometiam-nos que os Estados iam colocar os mercados na ordem. Nada aconteceu. Esta semana voltaram a prometer. Tem de acontecer.
Paulo Baldaia, aqui