O secretário-geral do Partido Socialista, António José Seguro, justificou o sentido de voto do PS na aprovação da proposta de Orçamento de Estado para 2012.
Seguro discorda do documento – “este não é o meu Orçamento”, refere – e justifica a decisão: “Não poderia virar as costas ao meu país”.
O PS vai abster-se na votação da proposta de Orçamento de Estado para 2012, apesar de António José Seguro ter manifestado repetidas vezes que não concorda com a austeridade do Governo.
O Partido Socialista considera que está em causa a “continuidade de Portugal na Zona Euro” e que um voto contra por parte do principal partido da oposição, nesta altura, seria um sinal negativo que o país daria à União Europeia, numa altura de indefinições políticas na Grécia.
Seguro refere que é contra o Orçamento de Estado, mas há outros valores mais importantes do que a disputa partidária. “Discordo desta proposta do Governo e já o afirmei repetidas vezes. Este não é o meu Orçamento. No entanto, este é o meu país e eu não poderia voltar as costas a Portugal”, sublinhou o líder do PS.
António José Seguro – que falava aos jornalistas após a Comissão Política Nacional do PS – propôs assim que o partido se abstenha na votação. A sua proposta conseguiu 68 votos, sendo que há 22 abstenções e duas abstenções, no interior do partido.
Seguro defendeu a abstenção socialista, na votação da proposta da maioria governativa. O secretário-geral do PS afirmou que a abstenção do PS se deve ao “interesse nacional”, que o partido coloca “em primeiro lugar”. “Não queiram que o líder da oposição do PS se comporte como o líder da oposição da Grécia”, afirmou Seguro.
Com esta decisão, o secretário-geral do PS espera que os portugueses reconheçam “um sinal político” de que os socialistas “estão empenhados” em contribuir para que Portugal supere a crise que enfrenta. “O nosso voto é a favor da viabilidade da continuação de Portugal na Zona Euro. E esperamos que estes sacrifícios pedidos façam realmente sentido”, afirmou.
Caso votasse contra a proposta de Orçamento de Estado para 2012, o Partido Socialista estaria a sair “do universo da credibilidade”, algo que Seguro não pretende.
Passos e Seguro terão mantido contactos para discutir orçamento.
Esta posição do PS poderá ter resultado também de encontros mantidos entre António José Seguro e Passos Coelho, primeiro-ministro, após a apresentação pública do Orçamento de Estado para 2012 e antes de ser revelada a intenção de voto do principal partido da oposição.
Estes encontros terão servido para António José Seguro esclarecer dúvidas sobre a realidade apresentada por Passos Coelho. Recorde-se que o grupo parlamentar socialista já fez um pedido de informação adicional ao Instituto Nacional de Estatística.
“O primeiro-ministro apresenta números e eu discordo desses números. É preciso uma definição clara do ponto de partida. E é por isso o grupo parlamentar do Partido Socialista requereu informação complementar ao Instituto Nacional de Estatística”, afirmou Seguro.
Seguro considera que “é importante que não façamos um ‘passa-culpas’ sobre os números e de responsabilidade”. E, acrescenta, “cada um deve assumir as suas próprias responsabilidades”, apontando Passos Coelho como destinatário desta mensagem.
Entretanto, quando pairavam dúvidas sobre o ‘apoio’ socialista à proposta do Governo, inverte-se o cenário. Declarações recentes do líder socialistas ameaçavam a rutura entre o executivo e o PS.
Das duras críticas à aproximação disfarçada.
Recentemente, o secretário-geral socialista apontou “uma grande divergência” entre si e o primeiro-ministro: “Ele acredita que a austeridade vai por si só resolver os problemas. Eu discordo. Considero que a consolidação das contas públicas exige austeridade, mas também uma agenda para o crescimento, que estimule o emprego, o setor exportador e as pequenas e médias empresas”.
Há poucas semanas, afirmou também que o PS “quer contribuir com soluções para que Portugal saia da crise”. Mais tarde, disse Seguro, “era importante saber qual o ponto de partida, porque se a estimativa for a do Governo, os sacrifícios terão de ser violentos e injustos, o que é errado”.
António José Seguro opôs-se a este Orçamento de Estado, que “tornará a classe média debilitada”, e não percebeu a razão de “tantos sacrifícios pedidos aos trabalhadores”, sem “uma única palavra” dirigida ao crescimento. “Austeridade sobre austeridade leva-nos à realidade da Grécia”, salientou. Continua a discordar das medidas, mas a alternativa seria um violento sinal para a União Europeia.
Miguel Moreira, aqui