Há perguntas tão simples, tão simples que só conseguem respostas complicadas.
Sabe qual é a vantagem de Portugal fazer parte do euro? Não foi apenas a agilização das trocas comerciais e nem sequer a maior proximidade com um mercado de 320 milhões de pessoas.
Tudo isso é verdade, mas a resposta à pergunta - o que ganhou Portugal ao aderir ao euro? - é a seguinte: passámos a ter juros tão baratos como os alemães.
Saiu-nos a sorte grande sem termos acertado no número. Em certo sentido, era como se eu tivesse passado a ser o Belmiro de Azevedo - não tinha o que ele tem, mas tinha acesso a juros tão baixos como ele.
Essa bizantinice acabou e, portanto, hoje somos confrontados com a pergunta impossível: faz sentido continuarmos no euro se já não conseguimos pedir dinheiro emprestado a um preço parecido ao da maioria dos nossos parceiros? Faz sentido insistirmos na moeda única se ela dificulta as exportações (encarece os produtos) e trava o crescimento de uma economia à procura de vocação?
Ora bem, para sairmos do euro com o menor custo possível só haveria uma saída: os credores de Portugal aceitarem um perdão substancial da dívida pública e, talvez, atribuírem um prémio de saída. Uma coisa do género: como nos vamos ver livres de vocês, gastadores compulsivos, além de perdoarmos parte da dívida, ainda vos ajudamos financeiramente na transição para que o ajustamento seja menos sangrento - sendo que seria sempre de uma dureza inquantificável, apesar de continuarmos na União Europeia.
O debate, pelos vistos, acaba de ser lançado pela Grécia. Ainda bem que Portugal não está confrontado com esta decisão radical. Há um factor que não deve em caso algum ser desprezado: o tempo. Hoje, os alemães não estão dispostos a passar mais cheques. Mas se acreditam no euro é inevitável que surja um compromisso. Qual? Obrigações europeias que cubram parte da dívida pública de cada Estado (30%?), o que, não resolvendo tudo - a dívida acima deste valor seria negociada nos mercados -, resolveria parte do problema. Haveria responsabilização para quem se endivida, mas também solidariedade entre os mais ricos e os mais pobres.
No entanto, para chegarmos aqui há condições obrigatórias. Os países endividados têm de cumprir um plano de austeridade penoso (o que não significa cego) e terão de ceder soberania. Estas condições precisam de ser absorvidas pelas pessoas, negociadas pelos políticos e concretizadas nos tratados.
Precisam de fazer caminho. Hoje sabemos que foi um erro entrarmos no euro a correr. Mas sairmos dele a correr seria igualmente precipitado. Já gastámos o dinheiro que não tínhamos, não desperdicemos o tempo que nos resta. Mais do que nunca, tempo é dinheiro. Aproveitemo-lo.
André Macedo, aqui