Qual é a melhor forma de comunicar - e decidir - numa democracia participativa?
Se elaborar dossiês é uma especialidade nacional, há, com certeza, quem advogue as metodologias mais variadas, incluindo uma muito específica: estender eternamente o debate e a reflexão.
As comissões de estudo são, pois, uma marca de água do país. Sujeitas a balançar entre o interesse global e as estratégias mais ou menos pacóvias.
Dois casos dos últimos dias são bem exemplificativos.
Um grupo técnico criado pelo ministro Paulo Macedo ponderou os melhores métodos para aumentar o rigor da gestão do Serviço Nacional de Saúde e as suas principais conclusões foram antecipadas pela Comunicação Social - da criação de um único Instituto Português de Oncologia, à triagem dos doentes nas urgências, defendendo a hipótese de serem direccionados para os centros de saúde, e a mobilidade dos médicos para um reequilíbrio das necessidades do país. Não tem que saber: bastaria o grupo ter concluído pela existência de 1245 a 2337 clínicos em condições de serem redistribuídos para se gerar um charivari. Mas o tom é bem mais original a partir do momento em que o presidente do SIM, Sindicato Independente dos Médicos, Carlos Arroz, resolveu atirar-se aos estudiosos. E não foi de modas. No "site" do Sindicato não se limitou a acusá-los de "lógica comunicativa terceiro-mundista". Não. Foi mais longe. "O grupo técnico sofre de ejaculação precoce, trazendo ruído desnecessário a uma reforma que se pretendia séria, eficiente e participada pelos envolvidos e percebida pelos destinatários finais - os portugueses". Assim mesmo. Ejaculação precoce!, o problema, por não terem sido os estudiosos capazes de deixar a discussão numa redoma.
O nível da catalogação, é claro, define quem o usa. Mas serve na perfeição para se fazer a ponte para outro estudo - igualmente "case study". O do resultado da comissão nomeada pelo ministro Miguel Relvas para elaborar um estudo sobre o futuro possível da RTP e do serviço público, e cujas conclusões peregrinas - a mais benigna delas a de entregar a RTP Internacional ao Ministério dos Negócios Estrangeiros - pecaram por deficiência... ariel. Sim, na linguagem do presidente do SIM, por ejaculação retardada, um problema vinculado a nervosismo, medo e ansiedade. Todos factores desnecessários, já que o ministro já sentenciara o que pretende da RTP e a própria administração da dita, cuja também elaborara um plano de redução de custos antes da... privatização.
De estudo em estudo tira-se, obviamente, uma conclusão: sadio mesmo é um relacionamento capaz de neutralizar ou sublimar os problemas. O país terá, de facto, tudo a lucrar numa relação de normalidade. As ejaculações retardadas ou precoces não auguram nada de bom...
Fernando Santos, aqui