segunda-feira, 17 de outubro de 2011

QUERIDO DIÁRIO - I X

Hoje fui ao tribunal.

Feita a chamada, tive que esperar quase duas horas até entrar na sala de audiências, onde fui depor como testemunha, e nesse entretempo li o Jornal da Bairrada. Em feliz hora o fiz, porque não fôra esta ocasião e talvez o enriquecimento cultural que essa leitura me proporcionou não tivesse acontecido: fiquei pois a saber que um homem que não conheço de lado nenhum avançou para uma nova etapa da sua carreira no mundo da noite, essa indústria de desgaste muito rápido, ao assumir a responsabilidade de melhorar, e sobretudo fazer de uma discoteca de que nunca ouvi falar, um espaço cada vez mais próximo do seu público!

Numa entrevista sem entrevistador, fiquei logo com a ideia que o entrevistado falou sozinho ou seja, as respostas foram dadas por quem fez as perguntas. Um estilo próprio, sem margem para dúvidas!

Mas se os leitores do Jornal da Bairrada podem saber por um jornal o que pergunta e responde o novo relações públicas de uma discoteca, porque razão não hei-de registar no meu diário aquilo que penso dos homens?

Eu acho que os homens se dividem em duas categorias: o meu e os outros. O meu tem a obrigação moral de ser perfeito: tem que ser sexy, másculo, romântico e bem humorado; não pode deixar a tampa da sanita aberta nem pingada, nem pelos na banheira depois do banho, nem a louça por lavar e muito menos a roupa espalhada no chão.

Tem que fazer pelo menos metade das tarefas domésticas, tem que me amar e não pode dar erros ortográficos. Tem que ter umas luzes de electricidade, dar uma mãozinha na mecânica e saber usar ferramentas. Ah! E tem que ser bom na cama.

Mas principalmente, tem que saber utilizar um bidé. Sim, porque o modo de utilização de um bidé praticamente define a personalidade de um homem. Contrariamente à tendência moderna sobre a (falta de) utilidade desta peça sanitária, considero que, em certas situações de falha de duche por variadíssimas razões (quando não há água ou não há tempo, não há duche!), a falta de uso do mesmo, seja para lavar um pé mais tranpirado ou outro pedaço de corpo que acabou de ser usado, é que é uma grande badalhoquice.

Mas eu sou do tempo em que as pessoas dum lado do dia tomavam banho e do outro lavavam alguns bocados que, por estarem sujos, incomodavam o próprio e os outros. Coisas de educação, embora admita (teoricamente) que as pessoas transportem consigo miasmas insuportáveis a chulés, sovacadas e outros que tais, que só por decoro aqui não consigno.

Teoricamente, porque na prática criaturas malcheirosas que não se cheguem perto.

Mas cada um é como cada qual e o que para aqui interessa não é a defesa da utilização do bidé, mas uma questão que me intriga enormemente:
- Porque carga de água nas casas de banho dos locais de trabalho existem bidés??? Alguém no seu juízo perfeito vai lavar alguma coisa (já não falando da falta de sabão, nem no facto de depois andar a pingar ou com bocados de papel agarrados à…sola do pé, por exemplo) num bidé utilizado por desconhecidos???

Bom bem sabemos que nos locais de trabalho das pessoas da minha faixa etária, deixou de haver bidés. Eu acho que só pode ser porque os colegas de trabalho deixaram de oferecer flores uns aos outros… É que, lembro-me bem, quando era miúda, sempre que ía com a minha mãe para o trabalho, lá estava o bidé cheio de água e atafulhado de ramos de flores. E foi nessa altura que eu aprendi que os bidés tambem podem servir para pôr as flores que damos a alguém que faz anos!

Voltando ao meu homem, claro que o bom senso dita que uma eventual louça por lavar pode ser desculpada com duas dúzias de rosas, ou que a sua parte das tarefas domésticas pode ser substituída por um salário chorudo que pague a alguém que as faça, mas no geral, se estes requesitos não forem cumpridos, vai haver gritos, insultos, queixas, mau feitio e eventualmente cessação de contrato.

Quanto aos outros homens, os que não são o meu, não quero saber se são românticos ou sensíveis, se deixam um mar de pintelhos na banheira depois do banho, se só limpam a casa em ano de eleições, ou se se sentam à espera que a comida lhes cais no colo.

Em conclusão, gosto de homens que sejam simpáticos e bem dispostos, e não gosto dos que são arrogantes ou cromos.

Parece-me fácil.

Tenho pena de não conhecer ninguém no Jornal da Bairrada, porque senão, quem tinha direito a entrevista e fotografia, era o meu homem.

Ou eu não me chamasse Alma de Deus!

Alma de Deus 

(Em reposição: anteriormente publicado no extinto http://blog.oliveiradobairro.net/)