O bom com a crise é espevitar-nos.
A quem bastava estender o braço para colher uma banana nunca precisou de se pôr erecto para, nos desertos do Corno de África, se safar. Os chimpanzés são filhos da abundância e o homem, da penúria.
António Barreto disse ontem que Portugal pode deixar de existir. É, pode (isto sou eu a traduzir) ficar como um produto branco no Pingo Doce.
Mas os tempos estão felizmente a nosso favor: não são eles maus, péssimos, críticos? Nada melhor.
Vejam gente a sair da modorra de décadas, olhem o exemplo dos socialistas franceses e esqueçam que é de socialistas e franceses porque é para todos os europeus. Todos os europeus, da esquerda à direita, queixavam-se da indiferença dos cidadãos em relação aos partidos. Há anos que se fala de primárias - abrir os cidadãos às decisões partidárias, à escolha dos candidatos do partido.
É exemplo americano, de democratas e republicanos, gabado por todos mas durante as vacas gordas não se foi por aí. Neste fim-de-semana dois milhões de votos directos (no último congresso do PS francês foram 130 mil de votos delegados) começaram a escolher o socialista presidenciável.
Para votar bastava ser eleitor francês, assinar uma vaga declaração democrática e pagar um euro. Este euro até resolveu o horror dos noticiários modernos: os congressos são deficitários e as primárias deram lucro.
Foi um pequeno passo duma eleição mas um salto na democracia.
Ferreira Fernandes, aqui