quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ISALTINO MOSTRA QUE O PAÍS SE SUICIDA. É ÓBVIO

É fácil perceber o óbvio do que acontece à nossa volta.

É dever do jornalista tentar ver para além do óbvio.

Leio e vejo as notícias sobre a prisão, seguida de libertação, de Isaltino Morais. E, angustiado, só vejo o óbvio.

Matuto, por exemplo, nas razões que podem ter levado uma juíza a decidir mandar prender alguém para cumprir uma pena cuja efectivação ainda está por decidir, em recurso. Acho óbvio ser uma falácia dizer-se que o tribunal desconhecia a existência desse recurso.

A possibilidade da falta de uma informação oficial sobre o assunto não desculpa o tribunal, que antes de uma decisão daquelas teria, no mínimo, a obrigação de pedir ao advogado de defesa informação adicional. É óbvio.

É óbvio também que o assunto ser corrigido em apenas 24 horas deve-se, antes do mais, à pressão mediática e ao facto de Isaltino Morais ser uma figura conhecida e relevante na sociedade. Fosse o nome dele José Maria da Silva, tivesse a profissão de pedreiro e zero câmaras de televisão à porta da Penitenciária da PJ, e bem podia esperar sentado até que o pedido de habeas corpus fosse respondido pelos senhores juízes do Tribunal Constitucional.

A mesma evidência se coloca quando se lê que o Conselho Superior de Magistratura, essa entidade que todos os anos dá uma pipa de "muitos bons" nas classificações dos juízes - apesar da incapacidade crónica da Justiça -, se apressou a abrir um inquérito para aprovar uma eventual existência de irregularidades. Também é óbvio que a conclusão desse inquérito será uma destas: nada de irregular aconteceu ou houve uma irregularidade de que ninguém é culpado.

Parece óbvio que Isaltino acabará condenado, ironicamente talvez bem, mas pairando no ar a suspeita, como já tantas vezes aconteceu, de que essa condenação, mais do que resultar da aplicação da justiça, resulta da necessidade de ilibação da própria justiça.

Finalmente, é também óbvio, face ao historial destes processos judiciais com pessoas famosas, dado o assalto em curso ao bolso do contribuinte, atendendo a que está por explicar o destino de grande parte dos milhares de milhão que puseram o País à beira da falência, medindo a olho o crédito dos políticos oficialmente declarados honestos, que não resta outra atitude aos munícipes de Oeiras, que vêem na sua terra muito dinheiro investido, declarem às câmaras de TV que não querem saber se Isaltino, o seu presidente de câmara, foi ou não foi ladrão.

Como é óbvio, este país está doente. Este país, sem moral nem honra, caminha, solidário e suicidário, para a extinção. É óbvio.

Pedro Tadeu, aqui