sexta-feira, 28 de outubro de 2011

E SE OS DEPUTADOS LEVASSEM MARMITA?

A acreditar no que escrevem os leitores online, pior do que os jornalistas e os publicitários, apenas os políticos nos ultrapassam no campeonato das profissões menos respeitadas.

Vendedores de opiniões, ilusões e soluções, jornalistas, publicitários e políticos são os três misturados no mesmo caldo de letras mortas, ideias vagas e projectos idiotas. Não prestamos para nada, só empatamos e gastamos. Não andamos aos pares, andamos aos trios, mas este triângulo não tem nada de virtuoso - é vicioso, ocioso e dispendioso.

Atenção: eu não quero convencer ninguém sobre a importância do bom jornalismo (para um bom país) e da boa publicidade (para uma boa empresa); há gente mais equidistante do que eu para pensar sobre estes assuntos. Quero no entanto deixar claro o que acho sobre os políticos.

Como já se sabia, é fácil, barato e paradoxalmente dá milhões de votos dizer que os políticos não prestam. Neste sentido, é boa publicidade (para quem acusa) dizer que eles recebem ajudas financeiras milionárias. Também é bom jornalismo revelar que estes subsídios existem e são, às vezes, de dimensão épica - Carlos Melancia recebe nove mil euros por mês! Mas se isto é verdade, não é toda a verdade. É conveniente lembrar que estes subsídios foram criados para ajudar a pagar uma actividade fundamental, a governação, que deve ter capacidade para atrair não apenas os que já são suficientemente ricos mas também os que são bons e querem (devem) ser remunerados por isso.

Infelizmente, no meio da pobreza que vivemos, os debates são infectados por uma narrativa miserável que se propõe rebaixar tudo em nome de todos. Começámos com o primeiro-ministro a andar de avião em turística, depois passámos para os funcionários dos ministérios sem gravata. Alguma destas escolhas muda alguma coisa para melhor? Claro que não, como acabar com os subsídios aos políticos também não resolve nada, só reduz ainda mais as hipóteses de elegermos os mais capazes.

Controlar o valor dos subsídios, limitando-lhes o valor e tornando-os públicos e transparentes (uma lista na Web?), seria uma alternativa simples que não afectaria a qualidade da governação. Claramente, não é para aí que vamos. Vamos para a solução dois-em-um. Deixamos de ser um Estado-Nação para sermos um Estado-promoção.

Um país low cost, onde os deputados levam sempre marmita. Soa bem, não soa?

André Macedo, aqui
(Director do Dinheiro Vivo)