O homem, um profissional liberal de sessenta e poucos anos, ficou alarmado quando recebeu o telefonema.
Era alguém do seu banco a avisá-lo de que lhe tinham clonado o cartão de crédito.
Fizera alguma viagem recente ao estrangeiro?, perguntaram-lhe. Sim, de facto o casal passara uma semana a outro país europeu. Então foi isso, explicaram. Numa qualquer loja, ao entregar o cartão para pagar, tinham-lho replicado de alguma forma.
Era fim de tarde. O pobre do homem sentia-se casado, confuso, e cada vez mais aflito. Pelo menos havia ali um profissional a dar-lhe atenção. Perguntou-lhe o que fazer, e o homem do banco respondeu firme: vá já cancelar o cartão.
Às cinco e tal da tarde, com os balcões há muito encerrados, parecia uma tarefa impossível. Faça no multibanco, disse o funcionário. Mas eu não sei, lamentou o homem. Quando lá chegar telefone-me, que eu explico. O homem concordou e agradeceu. Assim que desligou, foi à procura do primeiro multibanco.
E assim começou a sua desgraça.
Valor global das fraudes desceu...
O fenómeno das fraudes com cartões é muito diverso. Desde o puro e simples roubo de um cartão até complicados esquemas para obter réplicas e informação adjacente, a imaginação dos ladrões tem aproveitado bem a tecnologia moderna.
Com cada golpe novo que inventam, novas defesas aparecem. E mais avisadas ficam as pessoas. Em princípio, isso torna mais difícil aplicar determinados tipos de golpe. O efeito pode demorar algum tempo a produzir-se, mas é inevitável.
Como a tecnologia é hoje universal e portanto as vigarices também, vale a pena tomar conhecimento dos dados agora publicados pela UK Cards Association, a organização geral do sector. O valor total das fraudes cometidas nesse país entre Janeiro e Junho deste ano foi de 170 milhões de libras -- imenso, mas menos quase dez por cento do que o ano passado.
A queda terá a ver com melhor qualidade do software anti-fraude, bem como cartões mais 'espertos' e clientes idem.
... mas golpes ao telefone subiram
Confrontados com esses novos obstáculos, os ladrões fizeram o que seria de esperar: voltaram às tecnologias antigas. Os dados mostram que, apesar da descida global, houve um incremento acentuado no valor das fraudes cometidas por telefone - ou seja, aquelas que exploram a boa e velha confiança humana.
Essas fraudes, que implicam abordagens directas a uma pessoa, explorando a sua boa fé ou distração, subiram 48 por cento, para 8,6 milhões de libras.
No exemplo concreto dado acima, que é uma história real e muitas vezes repetida, o 'funcionário' conseguiu convencer o cliente do banco a associar determinado número à sua conta, e a passar-lhe informação vital enquanto 'cancelava' o cartão. No dia seguinte o cliente tinha uns milhares a menos na sua conta.
Por vezes nem é preciso que a vítima diga expressamente um número de código ao telefone, por exemplo. Ao criminoso basta ouvir os sons do pin a ser marcado.
Conclusão (uma vez mais confirmada): seja o que for que façamos de importante, ao telefone nunca
Luís M. Faria, aqui