Foi um choque brutal o anúncio, feito corajosamente por Passos Coelho, de mais pesados sacrifícios.
Uma razia para a classe média, ou seja, sempre para os mesmos. Tratamento de choque, que tanto pode dar para bem como para mal, para injectar vida nas empresas público-privadas que nos sugam, recapitalizar os bancos, de cofres cheios de dívida comprada ao Estado.
Se o doente não morre da doença, morrerá de certeza da cura (cavalar). Espera-se que tenham sido medidas inteligentes, mas, para já, os reflexos que tais medidas vão ter na vida das pessoas adivinham-se muito penosos. O crescimento económico passou ao lado do discurso. Como passará ao lado da realidade.
O governo vai cortar subsídios de Natal e de Férias a funcionários públicos, e pensionistas, nos dois próximos anos. Os que ganham mais de mil euros. Mas ninguém garante que não seja dose para continuar. Passos Coelho, que estava longe de supor tantos buracos e contas escondidas dramatizou: “vivemos um momento de emergência nacional”, na consequência de “contínuas derrapagens orçamentais”, por má gestão e nenhum controle. Tudo ao monte (e alguns agiotas no alto gamanço) e fé na Europa.
O mesmo Passos Coelho que na campanha prometeu uma coisa e agora faz outra, totalmente contrária, fala em buracos colossais, mas fica-se por aí. O PS desafia-o a provar. Para Passos ser transparente e desfazer equívocos, deveria fazê-lo quanto antes, chamar os bois pelos nomes. Não basta dizer que “as medidas são minhas, o défice não é meu”…Claro que Sócrates foi o maior coveiro do país e hoje vive feliz em Paris, mas há mais. E ninguém quer assumir responsabilidades.
Em resumo: tudo isto estará certo se um dia se vir luz ao fundo do túnel; se os sacrifícios não forem em vão e se o governo impuser a si próprio alguma moralidade, que até agora tem sido escassa e consiga arrumar a casa, pondo ordem nas estruturas.
Só assim ganhará credibilidade no futuro.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 20 de Outubro de 2011
