sábado, 1 de outubro de 2011

ACEITAR O FILHO DA OUTRA?

Há seis anos separei-me do meu marido e continuamos amigos, apesar de algumas tensões.

Fui eu que lhe disse para se ir embora, mas nunca meti os papéis do divórcio. Não tivemos filhos e ele é professor de yoga. Agora disse-me que engravidou uma das alunas. Ela tem 38 anos e planeou a coisa.

Ele, diz que foi enganado. Ela vai ter a criança, quer ele aceite, quer não. Ele está preocupadíssimo, acho eu que sobretudo porque não pode controlar a situação. Tem 60 anos e não é muito responsável, embora sempre se tenha envolvido muito com os filhos dos amigos ou dos alunos, até de desinteressar por uma razão qualquer.

Agora anda à procura de algum apoio emocional da minha parte. Até me perguntou se não me importava de fazer de baby-sitter da criança. Não estou muito satisfeita com nada disto mas também não quero ser um estropício. O que devo fazer?
Maria
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Cara Maria:
Antes de fazer alguma coisa, deve pensar bem que tipo de relacionamento tem com o seu ex. Você diz que ele lhe dá conta de situações bastante íntimas, como a grande preocupação com a gravidez fora de controle da aluna. Provavelmente essa atitude é recíproca e você também lhe conta intimidades suas. Aliás, não o teve o cuidado de se divorciar depois de o mandar embora, portanto deixou uma porta aberta. Ou seja, entre vocês parece haver uma relação simbiótica que pode já não ser amor, mas também não será só amizade. Isso não é bom nem mau, mas tem de ser esclarecido de parte a parte.

Se o seu ex não vive com a aluna, então está a pensar em viver, ou não faria sentido pensar na necessidade duma baby-sitter. Se não se zangarem, o mais provável é que a criança aumente a intimidade entre eles – exactamente o que ela quer. Ora, aumentando a intimidade entre eles, quem provavelmente ficará incomodado com a presença da Maria será ela. Por muito moderna e desprendida que seja, não é provável que aceite sem ciúme ver o filho ao colo da ex. (Quanto a ele, se for um homem típico, a tendência é aceitar qualquer situação, por mais surrealista que seja, desde que lhe facilite a vida.)

Ou seja, a Maria vai introduzir instabilidade num relacionamento que pode não ser estável, mas que não deveria ser influenciado por si. O seu ex tem de resolver a situação com ela, e quanto menos você participar nisso, melhor.

Quanto à Maria tomar conta da criança – eventualmente, ou amiúde – será uma bonita atitude de compaixão e desprendimento. Se não a incomoda, não lhe fica nada mal. Mas se a incomoda, um bocadinho que seja, recuse – está no seu direito. Quanto a dar-lhe apoio emocional, não é isso que você tem dado (e, quiçá, recebido) estes anos todos? Vai retirá-lo agora, que ele precisa mais? Se o fizer, mais a criança, marcará um afastamento definitivo entre vocês. Se é o que quer, agora tem uma boa oportunidade. Mais vale tarde do que nunca.Se não é o que quer, talvez já seja tarde de mais

José Couto Nogueira, aqui