Pensei que fosse mais uma Revelação de mais uma qualquer igreja, ou então publicidade a aconselhar-nos a livrarmo-nos do ouro que tenhamos em casa, cujo valor (como vi na montra de uma dessas lojas que hoje por aí pululam) tem subido tanto que "acabará por descer".
Mas não. Era apenas a foto sorridente de uma idosa senhora vagamente parecida com Maggie Smith, de 't-sirt' branca com um girassol estampado, mais um texto anónimo enumerando todas as duvidosas vantagens de "pensar positivo".
Não tentava vender-me ou comprar-me coisa alguma, só me pedia que sorrisse e tentasse ver, na escuridão dos dias,"as coisas boas" da vida, "esperança" incluída. E, de repente, desatei a ver "coisas boas" à minha volta, "mesmo na noite mais triste" e "em tempos de servidão" como estes.
Vi muitas: Vitor Gaspar regressará, mais tarde ou mais cedo, ao Banco de Portugal e não voltaremos a ouvir falar dele (nem a ouvi-lo falar); Passos Coelho a Massamá e às intrigas do PSD; Álvaro voltará ao Canadá e deixará de vender soluções milagrosas para o país na Internet; Nuno Crato nunca mais tornará a dar "bocas" sobre Educação; e por aí fora (isto supondo que todos estejam dotados daquele mínimo de vergonha com que o ser humano médio nasce habitualmente equipado). A esperança é, de facto, uma coisa muito bonita; mas porque é que fiquei ainda mais deprimido?
Manuel António Pina, aqui