Discute-se o agravamento do imposto sobre o rendimento dos capitais e, como sempre, as opiniões dividem-se quanto à sua justeza.
Desde logo, de um lado os mais ricos, do outro os mais pobres, supõe-se que, à direita e à esquerda!
Em nome do mais alto valor da democracia, sem direita nem esquerda, e por uma questão de justiça, manifesto-me favorável à execução da medida, mas protegendo, sempre, os de menores rendimentos: aquele que, por muito que desesperem, os seus gritos serão sempre abafados pelas vozes canoras das cevadas economias que, ao mais leve grunhido, fazem tremer a governaça.
E, para além de concordar com a criação de um imposto em bolsa e offshores, não me escandaliza nada uma subida da taxa em sede de IRS sobre os rendimentos, na razão directa do valor das contas multimilionárias, e, como moralização da coisa pública, uma cela seria o local certo para os trapaceiros se redimirem do mal que fizeram ao país. À falta de moralidade, as grades, educam!
Mas há ainda a hipótese de fuga de pessoas e capitais para outras explorações e, ou paraísos fiscais. Corre-se esse risco, tendo em conta que a Pátria dos agiotas é o vil metal!
Mas nenhum governo pode vacilar perante os amuos de uma classe que tem o mérito de criar riqueza e, por isso, deve ser acarinhada, mas que foge às suas obrigações, consonantes com o volume dos seus créditos. Isto é justiça social, pela razão simples de que nenhuma fortuna é feita por um homem só!
Se não houvesse estradas, caminhos-de-ferro, aviões, electricidade, telefones, correios etc., etc., etc., e ainda, o mais importante de tudo, que são os trabalhadores, fundamentais no crescimento das economias quer pela força do seu trabalho quer pelo consumo daquilo que eles próprios produzem nas empresas, será que existiam agora esses tubarões a arreganhar os dentes ao Estado, ignorando os apelos, tentando impor a sua lei pela força de um capital que é resultante de tantos factores, antes mesmo de toda a sua inteligência?
Sou de opinião que a taxa fiscal não deve pôr em causa o patamar social do capitalista, mas ele, que antes de autómato escravo do dinheiro, é um ser humano, deve contribuir para a recuperação do País, na proporção directa do seu poder económico. E ficar-lhe-ia bem, fazê-lo voluntariamente, seguindo o exemplo dos magnatas americanos, que amam a sua Bandeira!
Porque o Governo tem dívidas e tem que honrá-las, todos nós, parte integrante de um Estado, temos obrigação de cooperar na proporção dos nossos rendimentos, isentando os que já soçobraram à carga.
Não é novidade para ninguém que a situação caótica em que o País se encontra resulta das vigarices, entretanto impunes, que contaminam a sociedade, o povo, a economia, a Nação.
Mas não é só essa a culpa. Também da vida de “cigarra” que fizemos, alguns ainda fazem, sem querer perceber que somos uns pelintras a viver do celeiro das “formiguinhas” que trabalham, incessantemente. E mesmo depois fechadas as portas do celeiro, para alimentar as vaidades, passamos a viver de créditos dos agiotas, sem percebermos que eles têm em mira os nossos anéis e os dedos.
Os erros pagam-se caros e nós bufamos, mas vamos ter que pagar!
Não sou capitalista nem proletário e, por respeito a quem vive de um salário, não terei a desfaçatez de dizer que sou um mero trabalhador como, sem qualquer pudor, afirmou há dias o detentor da maior fortuna deste Portugal. E há mais desavergonhados por aí, nessas figurinhas ridículas de “endinheirados” que, à custa das vigarices do BPN, BPP e sabe-se lá que mais, criam fundações e erigem estátuas a perpetuar o seu nome. Que podridão!
Ninguém gosta de pagar impostos, muito menos quando há razões para desconfiar dos guardiões do tesouro, e nas economias de mercado têm que haver fortunas como motores do desenvolvimento, a par de uma classe média que desenvolva e dê segurança ao sistema. Destruir estes elementos seria um erro crasso.
Acabar mesmo, só com os pobres!
Não é fácil entender que os senhores do capital, numa confrangedora falta de sensibilidade, queiram que a factura da crise recaia sobre a pele e os ossos, salvaguardando todas as gorduras.
Estou na tabela dos 49% e mesmo sabendo que, para lá do IRS, serei atingido pelo fim da participação nos medicamentos, pelo corte nas deduções fiscais e pelo crescimento de outros impostos, etc., estou de acordo com mais um aperto do cinto.
Sabem: Tonturas de desespero são característica de quem tem o estômago vazio, azia e indigestão são sinónimos de barriga cheia.
Nenhum governo pode, nem deve, pôr-se de cócoras perante a sofreguidão da agiotagem capitalista, nem dos seus lucros, mesmo quando legítimos. Mas a responsabilidade do descalabro económico em que o País mergulhou não pode ser assacada aos que passam fome e já nada têm, mas aos que têm tudo e a barriga bem engordurada.
Fizeram-se grandes fortunas sob esquemas duvidosos, muitas vezes fraudulentos, com muitas culpas para os governantes, todos sabemos disso.
Agora, os beneficiados têm redobrada obrigação de pagar, e o Estado reconhecida legitimidade para receber!
Mas p.f., espremam as gorduras, não quebrem os ossos já secos!
As minhas fadas segredaram-me que, vamos pagar caro as asneiras de uma “governaça de inconscientes, inconsequentes, incompetentes”.
António Almeida e Silva, aqui