Ia um homem a correr por uma extensa planície relvada, que nem cem campos de futebol, uns a seguir aos outros.
Ia o homem a bom correr, mas não ia sozinho.
Atrás dele, resfolegando, de chifres curvados, um enorme boi. Aliás, um touro. O homem corria, corria, nem ele sabia para onde, gritando:
- Uma árvore! Socorro! Uma árvore!
Mas naquela planície não tinham plantado nenhuma, nem as árvores se deslocam donde estão, para socorrerem um pobre homem, a correr numa planície nua.
- Um buraco! Ao menos, um buraco! Socorro! - gritava o homem, quase no limite das suas forças.
Mas também não havia buracos, naquela planície lisa. Situação desesperante.
A sombra do homem e a sombra do touro deslizavam pelo chão, quase a tocarem-se. Alongavam-se uma e outra, cada vez mais estiradas pela planície, porque o Sol descia a olhos vistos e, daí a nada, iria desaparecer no horizonte.
- Se continuas a perseguir-me, roubo-te o Sol - gritou o homem, num último alento.
O touro não lhe deu ouvidos. Continuou a correr de cabeça baixa, atrás do homem. Nisto, o Sol escondeu-se, sem dizer sequer: ?Até amanhã".
- Vês do que eu sou capaz? - gritou o homem, sem parar de correr.
As sombras do homem e do touro tinham sido engolidas pela penumbra. O touro estacou, atemorizado.
A uma prudente distância, o homem gritou-lhe:
- Se queres que eu te traga o Sol, outra vez, deixa-me seguir, sozinho, naquela direcção - e o homem apontava o sentido contrário ao Sol posto.
O touro, que já sentia falta do Sol, concordou. Então, o homem, num passo a fingir de seguro, caminhou, sem pressa, em direcção ao oriente. Salvara-se.
Na manhã seguinte, o Sol, tal como o homem tinha prometido, voltou a aquecer o touro e a planície, a perder de vista.