quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A VIAGEM DE PASSOS DE MASSAMÁ A SÃO BENTO

Não sei se o facto de Pedro Passos Coelho ter nomeado 11- sim, onze! - motoristas para o seu gabinete tem algum significado sobre o que pensa o primeiro-ministro acerca de transportes públicos.

O que posso assegurar é que, sendo ele morador em Massamá, nos arredores de Lisboa, sabe certamente tão bem quanto eu, antigo morador no vizinho Cacém, que, à hora de ponta, uma corrida em direcção a Lisboa entre um utente do comboio da Linha de Sintra e um automobilista da IC19 é sempre ganha, com grande distância, pelo primeiro, o que opta por ir sossegado a ler o jornal durante a viagem, em vez do que escolhe fazer o percurso a trocar insultos com outros condutores.

Para Passos, porém, isso já não é problema... Mas é para os outros.

Quase todos os especialistas, daqueles que o primeiro-ministro tanto gosta de consultar, dirão que uma intensiva utilização de transportes públicos, sobretudo nas grandes cidades, melhora a qualidade de vida geral dos cidadãos, com benefícios económicos e ambientais assinaláveis.

Há, é verdade, uns raros moicanos que defendem serem os custos com os transportes públicos por vezes tão elevados que não há forma de compensar esse investimento do Estado, pelo que mais vale deixar as pessoas entregues ao seu vício automobilístico.

Como quase tudo em Economia, a resposta não é técnica, é política. Se pensarmos que em 2010 mais de 40 por cento da riqueza produzida no País, lida pelo PIB, foi parar ao Estado por via de receitas fiscais e não fiscais - ... por acaso valores relativamente baixos na Europa, mas adiante -, é de esperar que pelo menos não falte dinheiro para o essencial, mesmo quando estamos a pagar um endividamento monstruoso. E a lista do verdadeiramente "essencial" pode muito bem ser curta. Eu defendo uma, simples: Saúde, Educação e Transportes. Tudo o resto será discutível.

Para este Governo, afinal, ter bons transportes públicos não é essencial. Quanto à saúde e educação veremos, mas quanto aos transportes, com estes aumentos de 15% a 25% e outros prometidos para Janeiro, estamos conversados - o Estado desinveste e os cidadãos pagam mais, muito mais.

A questão política é esta: se os transportes colectivos, que podem beneficiar todo o povo, não são uma das prioridades de investimento da enorme massa de dinheiro que, apesar de todas as dificuldades, está nas mãos do Estado, qual é a prioridade que a substitui?... Desconfio que a resposta é segredo.

Declaração de interesses: Eu não conduzo. Desloco-me quase sempre de transportes públicos.

Nota: Corrigi, às 11h30, um erro grave nesta crónica - em vez de 14 motoristas como escrevi, Passos Coelho nomeou, de facto, 11. Isso não altera, no entanto, a argumentação apresentada. Peço desculpa aos leitores pelo erro.

Pedro Tadeu, aqui