terça-feira, 9 de agosto de 2011

ERA UMA VEZ...

ZÉ DO TELHADO

O Zé do Telhado é o meu gato preferido. E suponho que, para ele, também sou a pessoa preferida. Pois é: somos dois bons amigos.

Além de amigos, somos vizinhos. Ele mora uns metros acima da minha casa, no telhado do prédio, onde ocupo o último andar. Tem lugar privativo junto à chaminé que é o sítio mais quente. Na Primavera, no Verão e no Outono, o telhado é para ele casa, jardim, passeio, miradoiro.

No Inverno, pede-me hospedagem. E, sempre que chove, vem fazer-me uma visitinha, como quem não quer a coisa. Tenho sempre um pratinho de fiambre para o receber.

Entra-me pela janela da trapeira. Quando a janela não está aberta, tem maneira de chamar a atenção, raspando as unhas nos vidros da clarabóia, o que provoca um ruído fininho de arrepiar. Vou logo abrir-lhe a janela.

Ele anda na sua vida e eu na minha, mas gosta de saber-me em casa. Nos dias em que sua excelência prefere o telhado, vai não vai passa rente à trapeira e, muito descaradamente, espreita para dentro. Se me vê, debruçado à secretária, a trabalhar, o Zé do Telhado descansa e segue telhas adiante.

Há dias, houve um grande desastre. Exactamente o que imaginam: o Zé do Telhado caiu do telhado ao pátio. Altura de três andares, sem asa-delta. Nem pára-quedas. Um baque e tanto.

Andavam a arranjar as antenas de televisão. Rolos de fio, ferramentas e confusão a mais, em território de gato pouco dado a novidades. Ainda por cima vinham pôr um prato de antena parabólica, junto à chaminé. Que afronta!

O Zé do Telhado sobressaltou-se, indignou-se, desequilibrou-se e... foi parar ao rés-do-chão.

Dizem que os gatos têm sete bofes ou sete vidas. Mas só têm quatro patas. O Zé do Telhado partiu duas.

O veterinário onde o levei cuidou dele com todo o esmero e o Zé pouco se queixou.

Queixou-se, depois, já em minha casa, quando se viu com as patas presas a duas talas com ligaduras e proibido de saltar para o telhado. Janelas todas fechadas.

Mia, desesperado, pela casa toda. Gatos e mais gatos espreitam pelos vidros da janela da trapeira, à procura dele. Hão-de estranhar-lhe a falta.

Estamos em pleno Verão e eu não posso abrir as janelas. O calor é sufocante deste terceiro andar batido pelo sol e eu suo em bica. Mais vou suar até o Zé do Telhado ficar bom.
- Lá para o meio do Outono, tiro-lhe as talas - promete-me o veterinário.

Mas se ainda estamos em Agosto...

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui