Portugal tem uma extraordinária dificuldade em pôr-se de acordo para resolver os seus problemas.
Veja-se, por exemplo, as declarações de António José Seguro, discordando da ideia de o País ir mais longe do que o acordado com a troika.
É verdade que é preciso dar algum desconto ao que Seguro, e Assis, dizem: ambos disputam a liderança do PS. Mas nenhum deles pode repetir os erros do anterior Governo, que afundou o País "correndo atrás do prejuízo": Sócrates dizia que estava tudo bem, que não era preciso apertar o cinto, para depois convocar o País, de urgência, a desdizer o que tinha dito.
Foi assim com o OE 2010, com o aperto de Maio, com o aperto de Setembro, com o OE 2011 e com o último PEC (o 4º!)... Em cada orçamento, em cada "pacote" o padrão era o mesmo: o Governo respondia sempre com atraso aos acontecimentos. E, ainda pior, falhava na execução. É altura de mudar, passando a "antecipar o prejuízo".
Por causa da Grécia, por causa execução da orçamental do 1º trimestre (pior do que o Governo cessante disse) e porque tudo joga contra nós: alguém acredita que a taxa de juro de 14%, a 5 anos, resulta apenas do contágio da Grécia? Não será também desconfiança quanto à capacidade de pormos a casa em ordem em dois anos? Seguro tem de perceber que a desconfiança chegou a tal ponto que já não nos basta apresentar um défice de 5,6% em 2011.
Temos de surpreender. E isso implica ser muito mais ousado do que prometemos ao FMI/BCE/UE: no tempo e na profundidade das medidas. Porque se daqui a dois anos os mercados continuarem a não nos emprestar dinheiro, estaremos iguais à Grécia.
E depois?
Camilo Lourenço, aqui