segunda-feira, 30 de maio de 2011

O QUE OS POLÍTICOS TÊM A APRENDER NAS FEIRAS

Paulo Portas é o Paulinho das Feiras. E fez de tal forma história que acabou copiado por todos os outros partidos nessa presença constante nos mercados.

Hoje não há diferença entre uma peixeira a beijar o rosto esquálido de Francisco Louçã ou um vendedor cigano de roupa a desafiar os modos suaves de Pedro Passos Coelho. A passagem pelas feiras banalizou-se e é mais uma das estações da via-sacra desta campanha sem novidades - nem no discurso, nem na estratégia.

Para os partidos e quem lhes desenha as campanhas, as feiras são um instrumento simbólico. Mostra os líderes fora dos seus castelos de cristal, em contacto com o povo. É aposta segura de oportunidade fotográfica: o povo que anda às compras tem mais tempo e paciência para lhes dar dois minutos de atenção do que se estivesse a correr para o emprego. Mesmo que nunca lhe tenha passado pela cabeça dar-lhe mais nada, muito menos um voto. Um político abraçado pelo povo ganha logo capital de simpatia.

Apesar da megapresença dos líderes nas feiras, elas ainda são muito mal aproveitadas, com pouca imaginação. Fala-se de desemprego, de rendimento mínimo, de crise... Assuntos banais, bons para qualquer estação de metro. Ora, uma feira não é um lugar banal. Aquelas pessoas que os líderes têm à sua frente são gente absolutamente extraordinária. Se Paulo Portas, ou até Francisco Louçã, perdessem dois minutos, para além dos beijos e abraços, a conversar com qualquer um dos vendedores ambulantes com que se cruzam, teriam garantidos vários soundbytes e muitas lições de política e economia.

Para já, em qualquer um desses vendedores há um empreendedor - figura mítica de que Portugal tanto precisa. Mesmo descontando a tradição dos que são ciganos e a seguem à toa, há muito para aprender com os vendedores de rua. Vender, por conta própria, implica várias decisões económicas diárias. O que vender? Onde? Quanto comprar para não ficar com material em casa? A que preço? Tudo decisões que, nas grandes empresas, são tomadas com o respaldo de vários estudos de mercado. E que um vendedor resolve com um golpe de cintura e muita intuição.

Nos países em desenvolvimento e nas cidades mais enérgicas do Mundo - de Nova Iorque ao Rio de Janeiro, passando por Istambul e Hong Kong - os vendedores ambulantes são o exemplo vivo da economia em desenvolvimento, em que as pessoas não se deixam ficar à espera de um emprego quando ele não existe, e se fazem à vida no mais básico e acessível dos mercados, a rua. Será talvez um dos sintomas da doença que corrói a economia portuguesa, o facto de há muito as nossas ruas terem deixado de ser disputadas por vendedores - nem nos semáforos, nem nos locais de passagem, nem nos bairros mais populosos.

Além das lições de micro e macroeconomia, os políticos tinham ainda muito a aprender sobre teoria política com os vendedores. Em cada vendedor de rua há um politólogo que sabe tudo sobre... a rua. Esse é o seu local de vida e trabalho, o seu mercado, o ambiente económico e político que ele precisa de controlar para ter comida para pôr na mesa para os filhos. Por que é que o PSD não explode nas sondagens? - o vendedor de rua explica. Por que é que Sócrates ainda consegue reunir tanto apoio? - o vendedor tem uma ideia. O que é que o Bloco devia fazer para aniquilar o PCP? - perguntem ao vendedor. Porque a resposta à pergunta sobre como Paulo Portas, o líder do partido mais elitista, se tornou no mais popular - a essa já o vendedor de rua respondeu.

Catarina Carvalho, aqui