terça-feira, 24 de maio de 2011

MICROECONOMIA

Já toda a gente, talvez mesmo o primeiro-ministro, percebeu que estamos metidos num sarilho e que para sair dele vamos ter de mudar de rumo.

Pergunte ao cidadão comum e este dir-lhe-á que é, hoje, mais cuidadoso com as suas despesas, procurando economizar no que é possível. Cortou nas idas aos restaurantes, compra mais produtos de marca branca, recorre mais aos transportes colectivos.

Numa palavra, poupa. Ou, em duas, procura poupar. É este o fadário do cidadão típico, reflectindo a incerteza quanto ao futuro e a necessidade de acautelar alguns meios para prover a eventuais dificuldades.

Como sempre, haverá excepções à regra, daqueles que têm um emprego seguro, um pé-de-meia confortável, uma reforma generosa ou rendimentos e património avultados. Desses espera-se generosidade na solidariedade e nos gastos que possam compensar, pelo menos em parte, a retracção dos outros. Voltemos, porém, ao princípio geral de actuação: é esta proximidade ao dia-a-dia que tem faltado nas discussões sobre o que fazer, como se pelo facto de os problemas serem enormes, tudo se bastassem as macropolíticas para tudo resolver. Na verdade, muito pouco se resolverá se não houver um alinhamento dos agentes sociais com esses desígnios, não apenas no plano dos princípios mas, sobretudo, no domínio da sua actividade profissional. Enquanto assim não for, haverá um desalinhamento entre, por um lado, o nosso quotidiano pessoal - no qual reflectimos os constrangimentos que pressentimos o país vive - e o nosso quotidiano profissional - que consideramos uma excepção. Dois exemplos recentes evidenciam os obstáculos.

Em função das restrições orçamentais, o Governo decidiu afectar menos meios ao combate aos incêndios. "Vai arder mais floresta!", foi a (previsível) reacção dos bombeiros, como se a sua actividade fosse um prodígio de eficiência e não houvesse margem para melhorar. É esta a presunção típica de quem acha a sua área de responsabilidade um oásis, no meio de um deserto de incompetência, e considera que os problemas em que o país está metido são da responsabilidade dos outros, mormente dos políticos.

Um outro exemplo vem-nos da Polícia de Braga. Como resposta a uma tentativa de alterar a gestão do tempo de trabalho, os agentes daquela corporação faltaram colectivamente ao trabalho, alegando doença. É provável que a nova medida retire horas extraordinárias e, consequentemente, vencimento aos polícias ou que possa pôr em causa a eficácia da sua actuação. Não tenho dados suficientes para o avaliar, dando de barato a legitimidade de contestar a decisão da chefia. Já não me parece aceitável, nomeadamente numa instituição com as funções da PSP, que se recorra à "chico-espertice" para levar a sua avante: alguém acredita que todos os efectivos ficassem doentes na mesma altura? A conivência médica, e o silêncio da respectiva Ordem sobre o assunto, seriam motivo de perplexidade se esse não fosse o modo de ser da maioria das corporações.

É por estas e por outras que as grandes medidas, só por si, não serão suficientes. Vamos mesmo ter de mudar, de baixo a cima.

Alberto Castro, aqui