terça-feira, 24 de maio de 2011

DOADORES DINAMARQUESES DE ESPERMA DISPONIBILIZAM INFORMAÇÃO COMPLETA SOBRE A SUA VIDA

Empresa sedeada em Copenhaga diz que já teve clientes portugueses. Pedidos de mulheres solteiras têm aumentado nos últimos anos.

Se escolher o perfil do dador de esperma antes de uma inseminação artificial podia parecer uma ideia inovadora, abrir uma página na internet e ter um catálogo à disposição é no mínimo estranho. A empresa European Sperm Bank, sedeada em Copenhaga, é uma das pioneiras a nível europeu na personalização das amostras para procriação medicamente assistida (PMA).

Por 100 euros é possível ter acesso às informações completas de todos os dadores deste banco privado, por três meses, com direito a entrevistas áudio, currículo, fotografias em crianças, resultados de um teste de personalidade e algumas impressões do staff, tais como "era falador quando veio fazer a dádiva" ou "veste-se bem". Peter Bower, director da empresa, revelou ao i que já tiveram clientes portugueses.

Uma pesquisa no catálogo online do European Sperm Bank permite perceber que neste momento, por exemplo, há 94 dadores de olhos azuis ou 11 com mais de 1,90 metros. Há estudantes de Biologia e Direito, um especialista em história da literatura, um polícia ou um talhante. A custo zero só estão disponíveis informações básicas como raça, cor dos olhos e cabelo, altura, peso e qualificação profissional. Depois, por 25 euros, é possível juntar os restantes auxiliadores de decisão. Nos casos em que o dador não exigiu anonimato - 89 entre os 136 registos disponíveis -, a amostra, caso se pretenda conhecer a identidade do progenitor biológico, terá um custo acrescido de 100 euros. O custo mínimo de uma amostra (incluindo o envio) é de 585 euros. Segundo Bower, o cliente típico procura dadores com pelo menos 1,80 metros e olhos azuis.

Em Portugal, o acesso às técnicas de (PMA) é restrito a casais inférteis, casados ou em união de facto há dois anos. Mesmo a identidade de um dador de esperma ou de óvulos, nas aquisições que são feitas em bancos privados ou no estrangeiro, só pode ser conhecida por decisão judicial ou motivo clínico.

Embora Bower não explique se os clientes portugueses que recorreram ao serviço fizeram os tratamentos em Portugal, muitos portugueses e muitas vezes mães solteiras ou casais de lésbicas recorrem a países onde a lei é menos restritiva. O responsável sublinha que é neste campo que a procura tem aumentado: "Não registamos o estado civil dos nossos clientes, mas tem sido bastante claro o aumento da procura por parte de mulheres solteiras. Praticamente todos os clientes optam pela modalidade de acesso ilimitado para obter informação dos dadores."

Em Portugal só este ano arrancou a constituição do primeiro banco público de gâmetas - óvulos e espermatozóides. Tem abertura prevista para o final deste mês. Porém, uma personalização dos dadores, como explicou ao i Alberto Barros, pioneiro da PMA em Portugal, não está no horizonte dos médicos. "É preciso distinguir inseminação como acto médico e inseminação como acto comercial e industrial", critica, considerando repugnante apresentar dadores num catálogo. Até pelo que sabe em termos científicos: "As nossas características pessoais não surgem como quem mistura tintas. É como um baralho de cartas, os genes são baralhados. Toda a gente conhece casais em que ambos têm olhos castanhos e o filho nasce com olhos azuis."

Esta personalização, na opinião de Barros, pode ser uma ameaça aos direitos dos casais inférteis. "Preocupa-me a descredibilização que estas iniciativas podem provocar e os argumentos que podem dar a quem, por motivos éticos ou religiosos, é contra os tratamentos."

Marta F. Reis, aqui