As sondagens sucedem-se - mas o PSD não descola do PS. Ora, quando o líder socialista é o mesmo primeiro-ministro que levou o país à bancarrota e que, segundo a lógica a vida, deveria ser severamente punido pelos portugueses.
Mas não: várias sondagens sugerem o contrário - José Sócrates tem uma franca possibilidade de se aguentar no poder.
Quais são foram, então, os grandes erros do PSD até agora?
A escolha dos deputados. Desde logo, a manobra política azarada (e de mau gosto) de escolher Fernando Nobre como cabeça de lista em Lisboa (afastando António Capucho, a quem, segundo me dizem, prometeram o mesmo lugar e seria a primeira opção de Passos Coelho para presidente da Assembleia da República) e anunciar tal escolha no dia de encerramento do congresso do PS. Ainda por cima, as primeiras intervenções de Fernando Nobre revelaram uma sede de poder e uma ânsia pelo cargo de presidente da AR que não lhe ficam - nada! - bem. E o senhor, depois de ficar calado durante uns tempinhos, resolveu dar nova entrevista a um jornal diário, já avançando medidas que tomará enquanto...presidente da Assembleia da República! Mas quem é que o elegeu? Isto revela uma falta de sentido democrático e de desrespeito pelo voto dos cidadãos chocantes! Além disso, no cômputo geral, os deputados escolhidos por Passos Coelho mostram uma pouca disponibilidade (ou incapacidade?) para abrir à sociedade civil, sendo aparelhística, com gente próxima de Passos Coelho. Um grupo de amigos do líder. Chegou-me um mail de uma leitora o Porto a referir que um semanário português/angolano - muito próximo de Passos Coelho, cuja jornalista escreveu livro a elogiar o líder do PSD - divulgou que Miguel Relvas passou férias com Dias Loureiro em Miami- ora, cada pessoa pode passar férias com quem quiser. Agora, que o timing não é feliz, não é...dá azo a interpretações como as da leitora: o PSD não muda (embora não seja verdade).
O discurso lento e monótono de Passos Coelho. Quando Passos era líder da JSD, tinha um discurso fluido, forte, determinado. Cortante. Agoa, é muito complicado, muito redondo, pouco concretizador- e, apesar da voz de tenor, monótono. Não há nenhuma mensagem política do partido que Passos Coelho tenha sido capaz de transmitir. Nem uma! Em mais de um ano de liderança - o que é um case study pela negativa! Nos debates, foi muito cordial com Paulo Portas, muito pouco assertivo, sem dinâmica. Falta-lhe dinâmica de vitória. E essa só surgirá se as sondagens favoráveis lhe começarem a parecer em catadupa.
Lançar um programa liberal, criticando o FMI por ser...pouco radical. Passos Coelho criticou o memorando de entendimento pela...direita. Numa altura em que os portugueses se preparam para sentir inúmeras dificuldades e sacrifícios, o PSD decidiu seguir o caminho mais liberalizante. Abandonando o discurso social. Ora, este PSD parece estar mais preocupado com a colagem acrítica a uma doutrina económica do que com as pessoas e o país. Pode não ser verdade, mas parece. E politicamente o que parece, é...E foi o único que apresentou programa: o PS lateralizou, o CDS inventou umas frases bonitas que não dizem nada de nada; já o PSD permitiu que o tema principal de campanha seja o seu (mau) programa.
Contradições infantis. Então, Passos Coelho apresenta o seu programa, tem uma reunião com um líder sindical da educação - e decide mudar logo o seu programa para o setor? Se isto não é falta de liderança...Pior: é falta de confiança nas suas propostas. Falta de firmeza.
Falta de coordenação. O exemplo de Eduardo Catroga é deveras elucidativo: então, um senhor que -após não se coibir de liderar os processos mais delicados desde que Passos chegou a líder do PSD - afirma que está preparado para ser Primeiro-ministro, quando a pessoa que o convidou é que é o líder social-democrata! E falou, falou demais - parece que o PSD não tem ninguém que explique aos portugueses as diferenças com o PS - e das virtudes do seu programa para ajudar os portugueses...
Repito - mais uma vez - que Passos Coelho precisa de reflectir sobre a sua estratégia. Antes que seja tarde demais.
João Lemos Esteves, aqui