De uma só cajadada, matam-se dois coelhos - ou mais, bem vistas as coisas: abafam-se as guerras entre "barões" em disputa pelo posto de segunda figura da Nação e - esta é de mestre! - contrata-se uma espécie de avançado-centro.
Pouco importa se dá ao plantel maior "profundidade", como se diz em futebolês. Vai é arrastar multidões. 600 mil fãs em delírio, pelas contas das presidenciais de Janeiro, equivalentes às do presidente do PSD. E, à laia de brinde, o Nilton, a animar os comícios do partido.
O plano de recrutamento era um hino à sagacidade e à capacidade de persuasão. Pois não conseguiu Pedro Passos Coelho roubar o "reforço" ao clube socialista, já de dente afiado para semelhante operação?
Passos não contava era com os invejosos do costume, que lhe atiram à cara o suposto oportunismo. Injusta acusação esta! Logo a ele que - sabendo de ciência certa que a vitória está no papo (e tão grande que dá, seguramente, para eleger o futuro presidente do Parlamento!) - só quer, genuíno nas intenções, abrir a lista por Lisboa ao portador do "voto cidadão"!
Sim, trata-se de Fernando Nobre. O mesmo Fernando Nobre que, porta-voz do descontentamento popular com os partidos, ainda há meia dúzia de semanas se dava como indisponível para missões políticas e, agora, nem ao cidadão oferece um instrumento de protesto. Sendo ele o alvo, toca a fechar a página do Facebook...
Eis uma história que não fez cair uma, mas duas máscaras. Nenhuma delas é a do Nilton, que, afinal, não vai comparecer na campanha laranja.
Em França, caiu outra máscara, a de Sarkozy. A proibição da burka e do véu islâmico não atinge mais do que duas mil almas. Mas atinge o coração da identidade francesa, feita de múltiplas identidades, de múltiplos povos, de múltiplas culturas. Não é meter mais achas na fogueira; é tomar o lugar do incendiário de racismos e xenofobias.
Talvez - só talvez - se trate apenas de uma jogada táctica do presidente francês, para roubar "bandeiras" à Extrema-Direita galopante nas sondagens, hoje graças à loura e mediática filha de Jean-Marie Le Pen. Mesmo que assim seja, é perigoso. Como já notaram muitos analistas, tornando politicamente menos "proscritos" os temas da Frente Nacional, desinibe o eleitor, que passa a sentir-se "autorizado" a optar nas urnas por esse partido.
Paulo Martins, aqui