Nem se governam, nem se deixam governar" terá escrito um general romano ao seu imperador, a propósito de um estranho povo que habitava a parte ocidental da Ibéria.
Quando se sabe das condições impostas a quem se vê forçado a pedir um resgate, pensar-se-ia que, por uma vez, seríamos governados. A partir de fora, mas governados. Acabará por ser o caso, mas não sem luta! Temos de fazer jus à reputação.
Não deve haver muitos países em que haja uma tão grande discordância quanto àquilo em que se afirma estar de acordo. PS, PSD e CDS convergem na necessidade de cumprirmos a meta estabelecida para o défice e, face ao deteriorar da situação económica do país, predispuseram-se, anunciando-o, a aceitar um conjunto de condições adicionais indispensáveis para haver ajuda externa. Parecia que tinham percebido a urgência do tempo e a necessidade de recursos para acorrer a uma série alargada de situações de (quase) emergência, envolvendo desde o sector financeiro às empresas públicas. Depois de mais uns arrufos, o Governo concedeu que lhe compete ser o interlocutor dos nossos potenciais prestamistas, em negociações mais exigentes do que as que terão precedido o rejeitado PEC 4. Parecia que alguma lucidez e bom senso haviam regressado à política portuguesa. Parecia. Estamos em Portugal e eis que primeiro-ministro, ministros, PSD, CDS e, mesmo, o presidente da República, não apenas não se entendem sobre o que fazer e o que negociar, como fazem questão de o demonstrar na praça pública. A Oposição exige que se discutam apenas os detalhes, como se pudéssemos esperar pelo novo governo para acertar as exigências que nos dignaremos aceitar. Reivindica-se, como se fosse possível, um empréstimo intercalar, quando ainda nem sequer é seguro que consigamos o ansiado resgate. Sugerimos imaginação, em que somos especialistas, àqueles a cuja porta vamos bater, expondo-nos ao ridículo. Sorte a nossa que o comissário Olli Rehn não nos tenha perguntado "por qué no se callan?". Talvez saiba que não falamos espanhol. O que não quer dizer que tenha sido menos assertivo na reprimenda pública que nos aplicou.
Em resumo, estamos empenhados em transformar uma situação que, mal-grado as dificuldades, não tinha comparação nem com a da Grécia nem com a da Irlanda, num desastre absoluto. A política "porto-benficou-se" a um ritmo tal que se corre o risco de, por comparação, as trocas de comunicados e declarações dos responsáveis daqueles dois clubes parecerem exercícios de elevação. A continuar assim, ninguém se admiraria que o vencedor das eleições celebrasse às escuras e com os aspersores anti-incêndio activados.
Se tudo se resumisse à cena interna, já seria grave. Hoje, porém, o que cá se passa tem eco internacional, mais a mais por nos empenharmos em demonstrar que falamos inglês, técnico ou não. Quando julgávamos que já tínhamos visto tudo, os políticos portugueses fazem gala, semana após semana, em nos desmentir, demonstrando a nossa incapacidade para nos governarmos e que quem nos tentar governar tem de ter muita imaginação. Seria esse o sentido do apelo de Cavaco Silva?
Alberto Castro, aqui