quinta-feira, 28 de abril de 2011

A (DES)UNIÃO NACIONAL

Diz o povo que "de boas intenções está o Inferno cheio".

O pior é que, por estes dias, o inferno parece andar por lusas paragens. É inegável que a reunião de quatro presidentes, três "ex" e um em exercício, no acto comemorativo da "revolução de Abril" à sombra daquela ampla tenda branca montada nos jardins do Palácio de Belém, correspondia a uma "boa intenção".

Pode é ter o destino das "boas intenções".

Há muito tempo que andamos desunidos. Há muito tempo que não conseguimos os consensos possíveis nas indispensáveis e regeneráveis reformas deste Estado. Na administração desse próprio Estado, na Justiça, na Educação, na Saúde, nas finanças públicas e privadas, no combate à corrupção. Evidentemente que, numa sociedade plural, democraticamente constituída, o unanimismo não pode ser uma característica base. A democracia constrói-se na dissensão. Face a problemas reais, são diversos os caminhos teóricos ou ideológicos para procurar a solução. Desde que não se sobreponham os interesses de alguns ao "interesse comum".

Numa luta política pelo poder é natural a divergência nas propostas dos diferentes partidos. E num período eleitoral, mal estariam a democracia e o pluralismo partidário se essas diferenciadas propostas não aparecessem. É certo que, na conjuntura em que estamos, o núcleo duro do programa governativo estará a ser concebido pela dita "troika" (FMI, BCE, CE). Apenas alguns detalhes restarão para as possíveis manobras partidárias. Mas, face a estas, é que vão posicionar-se as escolhas dos eleitores. Por isso, sem deixar de ser "boa intenção", assume contradição, e até alguma batota, desde já dizer que o governo que nascerá deste acto eleitoral terá de ser maioritário, pois pode parecer incitar os eleitores a votarem maioritariamente num só partido. E, nesta interpretação, compreende-se a reacção de Passos Coelho de que não vale perverter o sistema numa falsa "União Nacional". Quem defendeu ou provocou a ida a eleições, agora, terá de aceitar o desfecho da votação.

Tal não significa que, consoante os resultados, não sejam procuradas soluções governativas de comprometido entendimento. Pois é: temendo o desfecho, os "presidentes" querem garantir o "compromisso de união" antecipadamente. Os exemplos de desunião são muitos e nas mais pequenas coisas. Desde a tenda branca à não utilização do espaço da AR, com o igual ritual. Aliás, temo que os senhores da "troika" não estejam só a observar os números, mas também a algazarra de dicas e contradições que por aí vão à solta, em contraste com o silêncio deles a "cozinharem" o nosso próximo programa de protectorado.

Paquete de Oliveira, aqui