quarta-feira, 9 de março de 2011

QUERIDO DIÁRIO - I I I

Ainda hoje estou de ressaca!

Afinal,  o jantar comemorativo do dia internacional da mulher a seguir a uma tardada de terça-feira de carnaval, foi uma noite daquelas!

 
O que mais me custou foi ouvir dizer por lá que a câmara municipal não passa cartão nenhum às mulheres. No boletim municipal, uma única referência: entrada livre para todas as mulheres nas piscinas municipais. Ah, e tal, porque no dia mundial do idoso vão com mil e duzentos velhotes para o Minho, levam-nos de autocarro, oferecem-lhes o almoço, põem-nos a dançar o vira, e às mulheres, nada!

Oferecem-lhes um banho, como se fossem umas pulguentas e carraçosas! Não adiantou nada eu dizer que o município não pode gastar à fartazana, que tem que ter contenção, que só em processos, tribunais e advogados é uma pipa de massa! Nada! Zurziram a torto e a direito no pessoal do executivo. Ah, e tal, que é só homens,  que não dão nenhum valor à mulheres, enfim, não foi nada bonito de se ouvir!

Pois bem. Nestas festas de mulheres, há sempre umas histórias que acontecem, há gente que nem acredita que sejam verdadeiras, e que diz que é tudo uma grande treta fruto da mente de frustradas e mal f…s! Mas posso garantir-vos que esta é mesmo verdade! Passou-se ali, à minha frente, vista por estes olhos que a terra há-de comer!

“Então é assim”: o artista de quem vos vou falar é o Tó Manel (nome obviamente fictício, que o marmanjo é mais conhecido que o Papa). Ora o Tó Manel é daqueles tipos bem parecidos que foi por assim dizer bafejado pela sorte genética de os ter todos no sítio. Estou a falar dos músculos pois claro! O que estáveis já a pensar?! Em relação a isso aí já lá chegaremos!

Pois bem, o Tó Manel é um tipo bem parecido sim senhora. Ele até acha que dá ares do amigo Tom, daquele do filme dos aviões estão a ver? Aquele que o Zé Mário até tem uma fotografia da mulher dele lá pespegada na parede ao lado dos urinóis lá na oficina. Já sabem quem é? Pois bem, o Tó Manel é assim como que um Tom Cruise em versão bairradina.

O homem até anda na moda e tudo, que a empregada daquela cabeleireira da esquina tem um fraquinho por ele e anda sempre a dizer-lhe o que ele deve usar para andar na moda. Ela compra aquelas revistas que ensinam o povo a vestir-se bem e depois mostra-lhe o que ele há-de comprar. E o Tó Manel até tem um fornecedor certo porque no caminho entre a sua modesta casinha e a oficina onde trabalha mora uma família de ciganos e ele é amigo do Pepito já há muitos anos.

E o Pepito até vai a Espanha buscar o material e tudo. Olhando para a bela camisola Hilfiger e calça Diesel e até o sapatinho-bota da Timberland, pois olha que ninguém diria que é de contrafacção, que é como quem diz que é igual à primeira mas não tem o selo oficial da marca e custa dez vezes menos que o nosso amigo Tó Manel é um trabalhador esforçado mas ganha mal e porcamente, mesmo fazendo horas extraordinárias a limpar os carros das donas de casas com maridos preguiçosos que os deixam lá num estado lastimável (os carros, não os maridos, entenda-se!)

O Tó Manel é um sucesso cá no burgo. Com um olho verde que não deixa as moças indiferentes, com um andar descontraído e despreocupado mas sabendo que está a ser avaliado, o nosso Tó Manel sonha com as noites de sábado, e especialmente com a noite do dia internacional da mulher, para a qual é sempre convidado para dançar só com mulheres à sua volta.

Pois é nessas, e só nessas, que ele se transforma no que sente que é a sua verdadeira essência. Pois fiquem sabendo que ele é o rei do sábado à noite ali na Quest! E olhem minhas amigas que não é coisa pouca porque há muita concorrência ali por aqueles lados! (Enfim, digo eu que infelizmente não sei onde fica essa tal de Quest mas pelo nome deve ser um sítio catita!).

Pois então, nesta última noite do dia internacional da mulher, o nosso Tó Manel enfiou-se no seu fato Armani de 2ª (e que nem se nota nada!), camisinha branca de seda com o peitinho depilado à mostra (sim, porque a empregada da cabeleireira convenceu-o que assim ficava melhor e ela coitada lá ganha mais uns cobres a dar cabo dos excessos capilares do Tó Manel).

E lá esteve o nosso homem como convidado de honra, para dançar na woman’s night! Gel no cabelinho espetado e curto (sim que melenas despenteadas e madeixadas é p’rós larilas!), e a barba tão bem feita que nem se notava que algum dia a teve. A cabeleireira fez um bom trabalho e o Tó Manel sentia-se confiante.

Foi a sua noite de sorte! O seu corpinho bem tratado que não é para qualquer uma meter o dente ou sequer a pata, mas nessa noite acho que teve o que me merece, ou não se chame ele António Manuel!

Logo no bar da recepção apareceram logo em cena as desesperadas do costume: a Filomena coxa, pois que a pobre da mulher tem mesmo uma perna mais curta que outra e também ela ela tem um fraquinho pelo nosso menino, e as Alices, as Cecílias, as Luísas, as Isabéis, as Manuelas e quejandas, pois não está logo na cara o que estas senhoras pretendem dum tipo como o Tó Manel?!

Chupam-no até ao tutano e só com um olhar! Autênticas vampiras de carne fresca de homem! Ele é que sabe o que estas mulheres andam todas à procura mas ele pode dar-se ao luxo de seleccionar pois claro! Adiante, que foi na pista que o Tó Manel mais brilhou. Sim que o Pepito ciganito amigo de longa data ensinou-o a dançar de tal forma que ele quase se julga aquele Joaquim espanhol que não é o Joaquim do talho embora esse também fale espanhol porque andou uns tempos escondido do lado de lá da fronteira por causa de uns dinheiros mal parados que sem ele saber como foram parar lá à câmara frigorífica do talho dentro duma carcaça dum belo porco, e que desperdício de carne que foi aquele… mas já estou a divagar!

Vamos lá voltar à vaca fria, ou ao belo porco ou lá qual era a carne de que eu estava a falar! O Tó Manel na pista é mesmo um ás e as senhoras que o seguem para todo o lado não podem deixar de imaginar como será este belo espécime na cama uma vez que os movimentos requeridos parecem estar todos lá! Tem ritmo sim senhora… Até eu fiquei aqui um bocado embasbacada a visualizar os rodopios de quem sabe o que está a fazer com os pés e as pernas e as mãos e os braços e o resto do corpo todo.

Pouco depois do início do show, apareceu então uma moça jeitosa que se sentou discretamente na ponta do bar. O Tó Manel, de tão habituado que está à fauna daquelas paragens ficou logo de antena no ar… Sangue novo? Carne fresca! Quem seria a bela moça que ele acabara de ver entrar? Muito discreta, bonita mas não excessivamente, e sobretudo com um ar inteligente. Sim porque o Tó Manel pode não ter grandes estudos mas gosta de falar com quem sabe dar troco. Para louras burras tem a cabeleireira com a vantagem que deixava de ter que pagar a depilação do peito e das pernas que lhe custa horrores (e suores quentes e frios também!)

Maria (nome obviamente fictício, apesar de a que a menina não ter a mediatização da Carolina Salgado) não se sentia demasiado à vontade ali. Não parecia ser noctívaga por natureza e dava ares de só recentemente ter cedido às pressões da mãe que já via a sua vida de futura avó a andar para trás por falta de candidato a progenitor do seu futuro neto. Maria sentada no bar a bebericar um martini dry (confesso que nem sei bem o que é, mas soou-me bem!) enquanto o Tó Manel fez as suas maravilhas na pista de dança.

Até que, já descansado, decidiu avançar. Perguntou a Maria se podia sentar-se ali ao lado e ela aceitou. E eu a topar que o homem não a deixara indiferente, tinha um ar de qualquer coisa mais do que o resto da gente. Lembrava-lhe alguém mas ela não se recordava bem (se calhar a dama não tinha visto o Top Gun! Até a mim me pareceu mal!).

O Tó Manel pediu uma cerveja porque gostava de se manter na bebida ligeira. Porque precisava de se manter claro e coerente para o que desse e viesse. Depois de cumprimentados e mais ou menos introduzidos, Maria deixou-se levar pela conversa surpreendentemente diferente do Tó Manel. Lá as leituras das revistas que não eram as do Zé Mário mas das donas de casa que as deixavam nos carros que os maridos não limpavam, pois essas revistas tinham muita informação que ajudava o Tó a ter uma outra percepção da vida e do mundo!

Conversa puxa conversa e o Tó lá foi dizendo que se sentia muito só e incompreendido. Que por azar pai e mãe tinham-lhe morrido e ele coitado teve que se agarrar à primeira oportunidade para se desenrascar na vida. E um vago padrinho tinha-o convidado para ir trabalhar lá para a oficina apesar dele achar que poderia ter sido muito mais. E olhai que um homem admitir que gostaria de ter sido muito mais do que é… olhai que é preciso tê-los no sítio!

E pareceu-me sincero quando disse isso. Fosse pelo que fosse a verdade é que o tipo caiu nas graças dela. Depois de uns quantos martinis e de umas quantas cervejas já eram só olhinhos, os dele nos dela e vice-versa. A coisa aqueceu, portanto! Ainda consegui ouvi-la concordar em moverem-se para o apartamento dela, até porque o Tó partilhava o sítio dele com o Zé Mário lá da oficina.

O que se passou a seguir, acabei agora mesmo de ouvir na cabeleireira, da boca da empregada. Parece que a Maria e o Tó consumaram o que os olhos de um e outro lhes pediam há umas horas. Ele, que parece que até que não é mau amante, deixou-se levar sem pressas e consta que se assegurou do orgasmo dela antes de se deixar levar pela tensão que sentiu a crescer dentro de si (mas para dentro do preservativo que o Tó era tão respeitador da intimidade como da higiene dos outros).

Ficou tão fascinado, o Tó Manel pela Maria dos olhos grandes e doces, que lhe perguntou se podiam ver-se outra vez. Mas ela, já saciada e achando que dessa ainda não era de vez, virou-se pra ele e parece que lhe disse:
- “Olha, meu caro amigo… azar! Uma boa noite de amor não faz uma boa relação!… Passa muito bem e olha… nem penses em mandar postais que eu não vou ter tempo para os ler.  Vai mas é apanhar maracujás!"

Alma de Deus

(Em reposição: anteriormente publicado no extinto http://blog.oliveiradobairro.net/)