O preço dos bens alimentares atingiu, em Janeiro, o valor mais elevado dos últimos 20 anos.
Por razões várias, o tema não tem merecido destaque. É pena, porque os factores que justificam esta escalada (especulação, falta de coordenação entre países, ausência de regulação, catástrofes naturais, só para citar alguns) são de muito difícil, ou mesmo impossível, controlo. De modo que os aumentos, que mais cedo ou mais tarde chegam ao bolso dos consumidores, vieram para ficar.
Sofrerão mais os países mais dependentes das importações desses bens alimentares, como está bom de ver. Na Europa, apenas a Bulgária,a Roménia, a Ucrânia e a Letónia são mais vulneráveis do que Portugal. Ou seja: é melhor começar a dar novo aperto nos orçamentos familiares, para acomodar mais um custo que está na lista dos incontornáveis.
Estando elencadas as causas e consequências de um tão sério problema, o que deve fazer-se é exigir aos responsáveis europeus que concertem estratégias para minimizar os danos. E minimizar os danos significa, no caso, evitar que a cadeia produtiva seja totalmente estrangulada, por ter as margens absolutamente esmagadas. António Serrano, o nosso diligente ministro da Agricultura, deu ontem, em entrevista à TSF, uma ideia para apaziguar o fenómeno: como "não há nenhum país que consiga controlar o movimento dos preços", resta apostar nos produtos nacionais, coisa que está apenas e só nas mãos do consumidor.
Instando a citar exemplos, o ministro citou: em vez de pedirmos carne argentina no restaurante, peçamos carne portuguesa; em vez de finalizarmos a refeição com papaia, finalizemos com fruta nascida e crescida no nosso país. Já algumas empresas se haviam lembrado deste amor pelo "made in Portugal", que, é, reconheçamos, um amor bonito. Mas padece de um pequeno problema: comprar o que é nosso fica mais caro (às vezes bastante mais caro) do que comer o que vem lá de fora. Ou seja: o apelo ao apego nacional esbarra com o preço que o consumidor pode pagar.
Não é, seguramente, por acaso que, quando chamados a comparar o custo dos produtos de marca branca com os mesmo produtos de marca industrial, o povo entende que a poupança chega a ser de 50%, quando se opta pelos primeiros em detrimento dos segundos. Não é, seguramente, por acaso que as marcas brancas atingiram uma quota de mercado a rondar os 40%.
Conclusão: o problema, bicudo como é, não pode, por razões que bem se entendem, ser chutado para cima dos consumidores. Por muito que custe ao ministro Serrano, não vamos deixar de comer papaia.
Paulo Ferreira, aqui