No princípio dos anos 80, quando os fazedores de opinião nos jornais eram, em quantidade, dominados por pessoas ideológica e culturalmente classificáveis pela expressão "esquerda gorda" ou "esquerda caviar", tão viciada no conformismo palaciano quanto no carreirismo militante, era um horror ser-se de direita.
Era quase perigoso escrever-se a comunicar aos leitores que se era de direita. Nesse tempo, o epíteto era sinónimo de fascista, reaccionário e troglodita.
Creio que o inventor daquela expressão "esquerda gorda" foi Miguel Esteves Cardoso, que, não por acaso, esteve com Paulo Portas na origem do jornal que deu a volta a isto, o defunto O Independente.
No princípio dos anos 90, a situação estava totalmente invertida e quem se dissesse de esquerda era emprateleirado na fila dos dogmáticos, conservadores e estúpidos. Intelectualmente considerado era quem todas as semanas elogiasse as virtudes da globalização e gozasse ironicamente com a queda do Muro de Berlim, podendo dar-se ao luxo de, rebeldemente, meter umas farpas ao professor Cavaco (os seus émulos à esquerda faziam, de resto, o mesmo ao doutor Álvaro Cunhal).
Com o tempo, esta direita festiva perdeu o sentido de humor, a rebeldia e, pela repetição ensurdecida de argumentação ideológica, resgatou o papel sectário antes ocupado pela dita "esquerda gorda". A "direita gorda" está igualmente infectada pelo vírus palaciano e carreirista. Duvidam?...
Ao ler as crónicas que esta corrente, maioritária na imprensa, tem escrito sobre a questão dos colégios privados que perderam os subsídios do Estado, desconfio de que, tal como nos anos 80 aconteceu aos seus espelhos nas elites portuguesas, estas pessoas perderam a tramontana.
Bramaram contra todo o tipo de intervenção e ajudas do Estado. Estiveram anos a exigir o controlo do dinheiro dos impostos em despesas com a educação. Defenderam exaustivamente uma "saudável" concorrência no ensino privado. Pois agora acham mal que os colégios privados subsidiados percam o dinheiro do contribuinte!
É bem provável que este corte cego nos apoios a estes colégios venha a cometer alguma injustiça ou a abrir uma deficiência de cobertura escolar antes resolvida. Talvez. Mas quando vejo os principais defensores destas subvenções serem os clássicos arautos do fim dos subsídios tenho de concluir: ou estamos perante uma nova revolução ideológica ou anda aqui alguém a enganar alguém.
Será agora, finalmente, o início do fim da História ou, apenas, a nova reviravolta na história dos escribas periódicos?
Pedro Tadeu, aqui