quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DEGOLADO EX LIBRIS DA CIDADE DE OLIVEIRA DO BAIRRO

Está plantada em frente ao edifício onde está instalada a sede da Junta de Freguesia, uma tília de grande porte que até há poucos dias ostentava troncos e braços de suporte de uma magnífica e redondíssima copa.

Uma árvore que aí existe há, seguramente, muitas décadas e cuja imponência venera ano após ano o centro da outrora vila e agora cidade de Oliveira do Bairro.

Existe, e continua a existir: mas já destituída do garbo que ostentou durante anos a fio.

Mão humana, a mando de quem manda e em obediência a ordens superiores encarregou-se de transfigurar a vetusta paisagem, tingindo-a com a glória da sua cor efémera; dito por outras palavras, a dita tília foi literalmente degolada como o inaudito objectivo de, pela sua parte superior, ser ‘envasada’ em manilhas de cimento.

Talvez com isso algumas consciências se tenham tranquilizado: afinal, seria um exercício de raciocício demasiadamente exigente, perceber que o mesmo resultado poderia ser obtido envolvendo o tronco da desgraçada tília com duas meias manilhas colcadas por baixo da respectiva copa!

Um raciocício que, ao que parece, não esteve ao alcance de quem deu ordens para a prática deste autêntico atentado ecológico publicamente praticado perante o comunitário e indiferente encolher de ombros.

Uma mutilação que durante um prazo pelo menos igual ao da vida da desgraçada tília, corrói irremediavelmente o equilíbrio e o aconchego do jardim adjacente ao edifício que é sede da Junta de Freguesia de Oliveira do Bairro, autarquia que pelo silêncio e não oposição tem de ter-se como co-autora da façanha.

Faça chuva ou faça sol, esta tília é a única imagem de ordem e de conforto num local que em cada dia que passa vai cada vez mais sendo selvaticamente invadido pela circulação automóvel. Quando a ciclovia da alameda estiver utilizável e houver necessidade de retemperar forças à sombra, o que há a fazer é amarrar a bicicleta ao tejadilho do automóvel, e entrar para dentro deste para descansar e beber água.

Não é preciso ser-se grande especialista ou ter grande experiência destas coisas da natureza para se perceber que para as autarquias de Oliveira do Bairro, aquela árvore não é um ser digno de admiração, mas sim uma ameaça a abater, uma conclusão própria de quem devia saber que, além da fitossanidade, há outras considerações (afectivas, paisagísticas, ambientais) que devem ser ponderadas quando se avalia uma árvore.

Apesar da degola deste ex libris da cidade, é possível continuar a pensar-se que tanto os românticos como Platão não estão tão longe da razão e da verdade, quando falam daquele conhecimento anterior ao nascimento que todas as crianças vão conservando durante um tempo, mas que quando adultas algumas esquecem irremediavelmente, principalmente quando picadas pela mosca do deslumbramento do poder.

Para a posteridade, ilustra-se a presente com uma foto obtida antes da degola da inocente tília.