Termina hoje o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social e espera-se (sentado, como convém) que, em tempo de balanços, algum dos nossos políticos se lembre de fazer o balanço dos resultados desse combate em Portugal.
De preferência que seja, como diz o prof. Cavaco, "uma janela de esperança". Porque talvez, quem sabe?, os 300 000 portugueses que, segundo cálculos por baixo, passam hoje fome descubram maneira de comê-la, à esperança.
Ajudará um pouco a esse balanço saber que, em Portugal, no Ano Europeu do Combate à Pobreza, o risco de pobreza, em vez de diminuir, aumentou de 18 para 23%, atingindo sobretudo os mais vulneráveis, crianças, jovens e velhos . E que, em contrapartida, os nossos ricos enriqueceram ainda mais, ocupando agora Portugal (onde os 20% mais ricos auferem rendimentos 6 vezes mais altos do que os 20% mais pobres) o 2º lugar no ignóbil pódio europeu da desigualdade, só ultrapassado pela Letónia e ex-aequo com a Roménia e a Bulgária.
Eram objectivos Ano Europeu do Combate à Pobreza, com que os governos europeus se comprometeram, o reconhecimento do direito a uma vida digna dos que vivem em pobreza e o "empenho politico e acções concretas para erradicar a pobreza". Em Portugal, tal "empenho" traduziu-se em políticas anti-crise assentes quase exclusivamente em cortes nos apoios sociais e no desmantelamento do modelo de Estado Social. Por imposição da mesma Europa.
Manuel António Pina, aqui