Um menino espanhol de quatro anos recebeu um transplante de cinco órgãos abdominais de uma criança portuguesa, uma dádiva considerada um “milagre” pelos pais que já agradeceram à família doadora.
Foi a cooperação europeia a nível de transplantação que “permitiu este milagre”, disse à agência Lusa a coordenadora nacional das unidades de colheita da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST), Maria João Aguiar.
O menino recebeu um multitransplante – duodeno, intestino, estômago pâncreas e fígado -, uma operação “rara e difícil”, segundo Maria João Aguiar.
Agora, a nova luta do rapaz de Arkotxa (Zaratamo, no País Basco) é adaptar o seu organismo aos novos órgãos doados por uma família portuguesa que perdeu o filho.
O transplante foi possível graças a uma doação proveniente de Portugal, disse o director da Organização Nacional de Transplantes espanhola, Rafael Matesanz.
“Perante a dificuldade de conseguir um doador em Espanha, estendemos as buscas além da nossa fronteira. O milagre ocorreu em Portugal: o país irmão com quem Espanha mantém uma cooperação muito estreita em matéria de transplantes e nos fez ver a luz no fim do túnel”, adiantou Matesanz.
A operação, realizada na madrugada de quarta-feira e que durou mais de seis horas, foi conduzida por Manuel Lopes Santamaria, que dirigiu a equipa cirúrgica do Hospital de La Paz, em Madrid, e é considerado o melhor especialista de transplante pediátrico em Espanha.
Apesar de a operação ter sido considerada "perfeita” pelos familiares, os especialistas do hospital madrileno escusaram-se a fazer uma avaliação. "As primeiras 24 horas são críticas. A criança está na Unidade de Cuidados Intensivos” e só mais tarde será divulgado um relatório médico, disse um porta-voz do hospital.
“O MELHOR PRESENTE DE NATAL”
O multitransplante ocorreu precisamente um mês depois da intervenção a que a criança doi submetida para remover um tumor raro, instalado no abdómen desde a gestação e que se desenvolveu até atingir os 700 gramas.
Para o pai do menino, este foi “o melhor presente de Natal” e fez questão de agradecer o gesto de solidariedade à família portuguesa: "Nós temos os sentimentos à flor da pele e quero estender os nossos agradecimentos a uma família que está a passar por aquilo que não quero passar."
Maria João Aguiar manifestou-se “muito orgulhosa” com a rede de colheita portuguesa e com os profissionais que permitiram este “milagre europeu”.
“As famílias compreendem muito bem os benefícios da doação e a nossa preocupação é que estes órgãos sejam todos aproveitados. E uma vez que não tínhamos receptor para os órgãos abdominais do dador, nós oferecemos a Espanha”, contou.
Estas operações “tão raras e tão difíceis são ocasiões únicas e ficamos todos muito orgulhosos de Portugal ser tão bom em doação que consegue, a nível da Europa, ser um veículo destes milagres de transplantação”, frisou.
Por outro lado, acrescentou, foi a “melhor maneira de honrar a doação desta família portuguesa”.
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