sexta-feira, 12 de novembro de 2010

SUGESTÃO DE LEITURA - PORQUE O FIM DE SEMANA ESTÁ AÍ

Com a publicação do poderoso livro-denúncia sobre a máfia napolitana, Gomorra (Caderno, 2008), Roberto Saviano foi obrigado à clandestinidade, vivendo em lugar incerto, sob protecção policial permanente, com o intuito de eludir a vingança mortal que os mafiosos lhe juraram.

Nesse limbo, Saviano jamais deixou de escrever. Sobre tudo – sobre a clausura, claro, mas também sobre aqueloutros com os quais partilha a condição (embora com desfecho mais funesto, como a jornalista Anna Politkovskaia, morta a 7 de Outubro de 2006 após revelar os abusos das autoridades russas na Chechénia), e ainda sobre o horror da guerra, de todas as guerras, e a cupidez dos homens sem rosto que habitam o mundo dos negócios. Esta é a parte infernal de A Beleza e o Inferno que colige 26 textos de Saviano.

Aquela convive com a beleza que o jovem italiano encontra ainda no Mundo que lhe é dado a ver quase sempre por vidros blindados. Um Belo que Saviano resgata das melodias que ouve, mas também da magia futebolística do pequeno argentino Messi – cuja biografia dá como exemplo de suprahumanidade – e, principalmente, nas palavras. Porque a vida de Saviano radica aí, nas palavras, na sua potência inusitada. É por isso que Saviano escreve – porque da escrita, da palavra, depende a sua existência na dupla dimensão: a humana e a cívica.

Nesta, por se tratar de uma terapia ocupacional que lhe permite racionalizar a clandestinidade e evitar soçobrar ao desespero; naquela, porque Saviano, que reitera não temer a morte, mas sim a difamação do seu nome, não deixa de convocar a escrita para resgatar o sentido da verdade e desvelar a podridão sob a superfície cristalina das fortunas ilícitas e dos poderes não sufragados. Nestes textos há, enfim, um apelo de Roberto Saviano que, pela sua coragem e o preço que pagou, não se pode ignorar: ler. Simplesmente.
Por Elmano Madaíl

A BELEZA E O INFERNO
Roberto Saviano
Caderno
17,00 €

Retirada daqui