quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"É PRECISO FINGIR PARA DAR CONFIANÇA AOS MERCADOS"

A deputada e ex-presidente do PSD Manuela Ferreira Leite criticou hoje, quarta-feira, o ministro das Finanças por ter falado num cenário de crise política daqui a seis meses, considerando que isso "é uma descrença total para os mercados".

Numa intervenção no debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2011, no Parlamento, Manuela Ferreira Leite pediu aos socialistas para não manifestarem publicamente desconfiança do PSD, fingindo que são "todos muito amigos", para que externamente Portugal tenha uma imagem de estabilidade.

Segundo a antiga ministra das Finanças, "se houve coisa negativa" na terça-feira, primeiro dia de debate do Orçamento, "foi quando o senhor ministro das Finanças, da bancada do Governo, referiu, aludiu à ideia de que estava preparado algum golpe no sentido de haver uma crise política nos próximos seis ou oito meses".

"Se o senhor ministro das Finanças pensa isso, peço desculpa, mas não o deve dizer publicamente", defendeu Manuela Ferreira Leite, recebendo palmas da bancada do PSD.

"É que eu acredito que os mercados olhem muito mais às afirmações do senhor ministro das Finanças do que às afirmações que fazem os deputados e a sua afirmação é uma descrença total para os mercados. Os mercados não funcionam com aquilo que acontece hoje, funcionam, no mínimo, a seis meses, e o senhor já lhes anunciou que daqui a seis meses, na sua perspetiva, há uma crise política. Não é possível haver um ministro das Finanças que digo isto num momento em que nós queremos é a viabilidade do Orçamento", completou a ex-presidente do PSD.

Antes, dirigindo-se para o socialista Afonso Candal, Manuela Ferreira Leite pediu: "Se o senhor deputado tem algum problema com o PSD, alguma desconfiança, alguma falta de crença no PSD não o diga publicamente, senhor deputado, finja, finja que estamos todos muito amigos".

"Sabe porquê, senhor deputado? É que nós, ao viabilizarmos o Orçamento, é com o objectivo de fazer crer aos mercados que nós temos aqui algo que é necessário ser concretizado. Não podemos nós fazer este esforço em nome do interesse nacional e os senhores imediatamente discordarem disso e acharem que estão desconfiados de nós", justificou.

"Quem manda é quem paga" e "nós não mandamos nada".
A deputada e ex-presidente do PSD Manuela Ferreira Leite afirmou que "quem manda é quem paga" e que, por isso, Portugal não manda nada, restando-lhe "pagar a factura" que lhe é exigida.

"Se queremos ser economicamente independentes, então temos de nos conter dentro dos limites do que podemos pagar", defendeu.

Esta afirmação, feita no segundo dia de debate na generalidade do Orçamento do Estado para 2011, no Parlamento, foi questionada pelo deputado do PCP Honório Novo.

"Quem paga é quem manda. É aquilo que o senhor deputado faz lá em casa aos seus filhos", respondeu-lhe Manuela Ferreira Leite, acrescentando: "Ó senhor deputado, se não faz, devia fazer, porque era um bom sistema de educação".

Durante a sua intervenção no debate do Orçamento para 2011, a ex-presidente do PSD insistiu que é preciso "falar verdade" aos portugueses sobre a situação do país: "Que não se criem ilusões, porque nada pior do que expectativas frustradas que alimentam a revolta".

E se Louçã fosse primeiro-ministro?
O BE e o PCP, através dos deputados Francisco Louçã e Honório Novo, contestaram que seja inevitável seguir o caminho proposto pelo Governo no Orçamento para 2011 para evitar que Portugal entre "em ruptura financeira", como argumentou Ferreira Leite.

"Vamos imaginar que o senhor deputado Francisco Louçã era eleito e ia ser primeiro ministro", sugeriu, então, a ex-presidente do PSD, alegando que o líder do BE teria de escolher entre um Orçamento "algo recessivo" ou "a bancarrota" do país.

"E, portanto, senhor deputado, não queremos imaginar o senhor deputado a primeiro-ministro", concluiu Ferreira Leite.

PS deixou Portugal como um doente quase morto.
A deputada do PSD defendeu ainda que a governação do PS deixou Portugal como um doente quase morto e a história e os portugueses o julgarão por isso.

"Estão há quatro anos e meio com maioria absoluta, tinham mais do que a obrigação de ter resolvido o problema", defendeu Manuela Ferreira Leite.

"É preciso dizer às pessoas que a crise vai levar vários anos a ser solucionada e que o PSD, se Deus quiser, há de lá chegar, ainda sem a solução toda feita. E não pode ser por culpa nossa. Estamos a tratar um doente que os senhores quase mataram", declarou, dirigindo-se para os socialistas.

Manuela Ferreira Leite, para quem agora este Orçamento "é inevitável", questionou "como foi possível o Governo ter conduzido o país a um ponto tal que tornou inevitável este tratamento".

Retirada daqui