quarta-feira, 11 de agosto de 2010

QUEM NOS ACODE?

Foi no Sábado à tarde, no centro de Lisboa. Acabo de estacionar o meu carro a meia dúzia de passos do cruzamento onde dois carros, um deles a grande velocidade colide com o outro que vinha em sentido contrário. Dá duas voltas pelo ar e vai enfaixar-se contra um poste de semáforo que lhe travou o caminho. Corro, com o coração aos pulos, para ver se as pessoas estão bem e se precisam de ajuda. O que vejo pela minha frente é um cenário de destruição, um homem e um miúdo (vim posteriormente a saber tratar-se de pai e filho) imobilizados, entalados no interior do carro, o homem em situação gravíssima e a criança mal, em estado de choque, aos gritos "Papá, Papá, não morras!".

Ligo imediatamente para o 112 - Número Nacional de Emergência - e sou atendida por um operador que encaminha supostamente a chamada para outro operador. Sou, então, atendida por um gravador, que, alternadamente em português e inglês, me diz algo do género aguarde, que logo que possível a sua chamada será atendida. A mensagem repetiu-se várias vezes, mas nada. Desliguei, fiquei indignada e muito preocupada.

Entretanto, apareceram vários polícias que estavam a fazer guarda a um edifício público à esquina do cruzamento em que se deu o acidente. Perguntei-lhes se tinham chamado o 112, acenaram que sim. Estavam ao telemóvel. Os minutos iam correndo e a situação das vítimas, em especial o homem, que não me atrevo a descrever, aparentava agravar-se. Passaram-se 10 minutos e nada. Volto a ligar o 112. Sou atendida pela mesma pessoa a quem explico o acidente, pedindo-lhe que não me voltasse a passar um gravador. Falei, então, com alguém a quem expliquei a situação mais detalhadamente. A resposta que obtive foi nem mais nem menos, temos muitos pedidos, têm que esperar. Não queria acreditar no que acabara de ouvir. É uma resposta que um 112 nunca pode dar. Pode dar outras, mas esta não.

De entre as pessoas que se juntaram no cruzamento estava um médico francês, dentista – em férias - que deu as primeiras orientações sobre o que não se devia fazer, pois já tinham passado uns largos 10 a 15 minutos e algumas pessoas lembraram-se de trazer gelo e água para ajudar as vítimas. Como ninguém falava francês servi de interlocutora. O médico explicou-me que era essencial manter, se possível, as vítimas a falar ou, não sendo capazes, obrigá-las a fixar a atenção a sinais ou palavras em seu redor, assim como era fundamental pedir-lhes que fossem mexendo uma ou mais partes do corpo, os dedos da mão, um pé, qualquer parte do corpo. Mantive as vítimas atentas à conversa que fui tentando fazer. Foi uma eternidade. O médico francês estava perplexo com a demora de socorro e estava muito preocupado porque os minutos faziam toda a diferença. Disse-me que em França a lei impõe que a emergência nas cidades chegue ao local em menos de 5 minutos.

Quando o INEM chegou ao local já tinham voado, à vontade, 20 minutos. E não bastando a falta de rapidez de socorro, ainda mais esta. Houve necessidade de desencarcerar as vítimas. Os bombeiros levaram, em cima dos 20 minutos, mais de meia hora a chegar, fora o tempo necessário para fazerem o trabalho. Esta é a história de um acidente grave envolvendo duas pessoas a precisarem de ajuda, que foram assistidas 20 minutos após a primeira tentativa de pedido de socorro e finalmente retiradas do carro e transportadas para o hospital depois de um calvário de esperas e demoras que se saldou em mais de uma hora.

E que dizer das duas outras pessoas que seguiam no outro carro, a quem fisicamente nada aconteceu, mas que estavam em estado de choque. Uma delas tremia que nem varas verdes. Não dizia coisa com coisa. Apoio psicológico? Nem vê-lo.

Assim vai a capacidade de resposta do INEM (ou a falta dela) e a sua eficiente organização (ou desorganização). Assim são tratadas as pessoas que precisam de ser socorridas com rapidez e segurança nos momentos de maior aflição, em que a vida pode estar por um fio. Estes momentos não escolhem dias e horas, nem fins-de-semana, nem férias e não se compadecem com a maior ou menor falta de recursos e a sua deficiente organização, nem tão pouco com as abordagens “economicistas” que agora estão na moda. Uma resposta pronta não pode ser uma lotaria.

A ver por este caso e por muitos outros que vão sendo relatados em círculos de pessoas amigas e na comunicação social o pronto socorro do INEM não vai bem...

Retirado daqui