segunda-feira, 9 de agosto de 2010

JORNALISMO DE SARJETA

Um dia destes, lemos no título de um diário informativo da praça que o ex-ministro Paulo Portas terá vendido uma certa arma ao desbarato, em 2004.

Depois de lida a notícia, percebemos que a dita arma consiste num projecto (patente e maquinaria original) concebido pela já extinta INDEP - Indústrias Nacionais de Defesa, o qual foi leiloado quando Paulo Portas foi ministro da Defesa Nacional, acabando por ser arrematada por 50.000 dólares (cerca de 40.000,00 euros).

Ora, na perspectiva do aludido órgão de comunicação, o valor de 50.000 dólares foi uma autêntica pechincha, porque os custos de concepção do projecto terão orçado em  cerca de 10.000.000,00 de euros.

No entanto, outro orgão de comunicação acabou por indicar que, afinal, os "custos de concepção e projecto de produção chegaram aos 15.000.000,00 de euros", esclarecendo que se trata de uma metralhadora, chamada Lusa A2, concebida pela INDEP - Industrias Nacionais de Defesa, para membros de forças de segurança pessoal e de forças especiais, mas nunca chegou à fase de produção em massa, devido aos custos de produção.

Perante esta pequena divergência de 5.000.000,00 de euros, nada como tirar a coisa a limpo; e, em pouco tempo, logo surge um outro valor, este substancialmente inferior, o qual refere que o custo de desenvolvimento do projecto da Lusa A2 foi 2.500.000,00 milhões de dólares, projecto este que esteve parado durante dez anos, uma vez que os seus melhoramentos e modificações haviam culminado em 1992.

Para quem já não se recorda, há que lembrar que o processo de extinção da INDEP foi iniciado em 2001, quando o Engº António Guterres liderava o governo, tendo os bens da empresa sido vendidos em leilões públicos em 2003 e 2004, numa altura em que o governo pertencia à coligação PSD/CDS.

Ou seja: tendo havido a preocupação de dar destaque ao ministro da altura em que a arma foi leiloada em 2004, não houve a preocupação de dizer quem era o ministro em 1992, na data em que terminou o projecto de concepção dessa arma, e nem sequer do ministro que em 2001 determinou a extinção da empresa que concebeu a dita arma, datas em que Paulo Portas nem sequer sonhava vir a ser ministro da Defesa.

Chama-se a isto jornalismo de sarjeta!