terça-feira, 31 de agosto de 2010

ERA UMA VEZ...

O VELHO MAGO


Era uma vez um velho Mago, muito famoso.

Mago equivale a feiticeiro. Feiticeiro equivale a bruxo. No entanto, este não era dos maus, daqueles que transformam príncipes em sapos ou coisas assim. Durante toda a vida, dera-lhe mais para transformar sapos em príncipes ou coisas parecidas. Era um Mago bom.

Mas andava muito esquecido. Ia para praticar uma magia, através de uma fórmula mágica e, a meio, tinha uma falha de memória:
- Galapim, topelim, balemeque... Ou será bumelaque?

O caso podia ser grave, porque qualquer pequena alteração das palavras mágicas transtornaria o resultado. Em vez de fazer aparecer um príncipe, onde estava um sapo, fazia aparecer uma galinha.

Depois, a transformação da galinha em príncipe é que era um caso sério. Um processo muito mais complicado. Quase impossível.

À conta dos seus enganos, o velho Mago tinha a capoeira cheia.
- Esta minha cabeça já não funciona como dantes funcionava - queixava-se ele.

Ainda foi a um médico, que lhe receitou uns comprimidos para a desmemória, mas o Mago também se esquecia de tomar os comprimidos e tudo continuava na mesma.

E a capoeira cada vez mais cheia...

Um amigo, que foi visitá-lo, aconselhou-o:
- Larga o ofício de Mago e transforma-te em criador de aves. Tens aqui um rico aviário.

Pois tinha. Tanto que uma raposa descarada começou a rondar-lhe a capoeira.

Numa noite de luar, o mago pressentiu-a e, armado de umas palavras mágicas, que tiram o apetite às raposas, atirou-lhe ao focinho:
- Belico, sapetec, arlepic, pic, pic. Sofial! Jeropigue! Cavanica. Obstrúnfio.

A raposa fugiu, alarmada, e as galinhas agitaram-se na capoeira, numa desusada excitação. Sucedeu o que parecia quase impossível.

A capoeira ficou cheia, a abarrotar de príncipes, todos muito indignados por se encontrarem em lugar tão fora de propósito para tais Altezas.

Saíram os príncipes para os seus respectivos palácios, se é que os tinham, e o velho Mago, muito envergonhado, ficou a remoer mais este engano. Não acertava nem numa única fórmula. Que enervância!

E o mais grave é que também se tinha esquecido das palavras mágicas que, infalivelmente, transformam os sapos em galinhas.

Sem gemada para o lanche nem omeleta para o jantar, o Mago decidiu seguir o conselho do amigo. Comprou várias dúzias de pintainhos, meteu-os na capoeira vazia e esperou que crescessem.

Dá-lhes de comida migas de pão duro e sêmola. Não é nenhuma fórmula mágica, mas engorda.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui