sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CHEGADA COM PARTIDA EM FALSO

Quando todos pensávamos que o objectivo da passagem da 72ª Volta a Portugal por Oliveira do Bairro era o da divulgação e do engrandecimento do nome da cidade e do concelho, e das suas gentes, eis que o resultado da transmissão televisiva apenas confirmou um autêntico flop, tão confrangedora foi a tão propagandeada intenção de reforçar o prestígio e o conhecimento do nosso concelho falando de Oliveira do Bairro, do que por aqui se vai fazendo e acontecendo, a milhares de espectadores, através das transmissões televisivas.

Desde logo, os tão esperados milhares de visitantes resumiram-se ao ajuntamento de algumas centenas de pessoas movidas pela natural curiosidade da participação num directo televisivo, que seguramente frustraram as expectativas mais pessimistas; e depois, importa referir que não se tratavam de verdadeiros visitantes do concelho, porque a grande maioria eram munícipes locais, que todos os dias circulam pela cidade ou pelas freguesias do concelho.

Quanto às entidades e grupos convidados e presentes, nada a dizer, obviamente.

Mas quem esteve atento à cobertura televisiva do programa "Há Volta"  manteve o seu desconhecimento quanto ao facto de serem naturais do concelho, dois dos maiores vultos, vivos, da investigação científica mundial: o Professor Doutor Arsélio Pato de Carvalho, natural da Mamarrosa e especialista na área da fisiologia celular e da neurobiologia (a quem foi imposta pelo presidente da República a Ordem Honorífica de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, na sessão solene comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas de 2007) e o Professor Doutor Milton Costa, natural de Bustos e especialista de renome mundial na área da microbiologia e biotecnologia.

A par disso, mantiveram os telespectadores o mais completo desconhecimento quanto à oferta turística do concelho, a qual deveria ter sido feita pelo município enquanto membro de pleno direito da Associação da Rota da Bairrada.

Como desconhecidas se mantiveram as especificidades da raça bísara do leitão à bairrada, ou até o simples facto de ter sido no concelho que começou a disseminação por todo o país da tradição do porco assado no espeto, trazida da Venezuela pelos nossos emigrantes.

Perante tão soberana oportunidade, nada foi feito para reconhecer a importância do nosso tecido industrial, e da sua capacidade para manter o concelho activo, quer ao nível da produção quer ao nível das exportações, quando, por exemplo, se poderia ter dito que Oliveira do Bairro é terra de barro e que é aqui que está instalado o maior produtor nacional, e um dos maiores a nível ibérico, de abobadilha cerâmica de barro vermelho.

Ou que é numa das zonas industriais do concelho que está implantada a primeira unidade fabril nacional de produção integral de módulos solares fotovoltaicos de tecnologia de película fina, cuja vocação exportadora é dirigida para os principais mercados fotovoltaicos, como os Estados Unidos, Ásia, Alemanha, Espanha e Itália.

Ou que é do concelho a empresa a quem os chineses confiaram o fornecimento do equipamento, software e parte eléctrica de uma das maiores empresas de tijolos do mundo.

Ou que tem sede em Oiã, a maior freguesia do concelho, a empresa produtora de mobiliário metálico para escritório que a nível nacional maior reconhecimento tem tido pelo desempenho consistente que lhe permitiu atingir um lugar de excelência no seu sector de actividade.

Se esta promoção se tivesse concretizado seria, concerteza, uma forma de incutir nos responsáveis da indústria local, a confiança que em si deposita a autarquia, por forma a viabilizar o fortalecimento e melhoramento do seu desempenho e, quem sabe, contribuir para aumentar o número de empresas concelhias colocadas no ranking das melhores empresas do distrito e do país!

Teria sido também muito importante que o município de Oliveira do Bairro tivesse aproveitado a passagem da 72ª Volta a Portugal para divulgar, promover a dar visibilidade ao Museu de Etnomúsica da Bairrada, produzido na área musical, construído e vivido ao longo de gerações por toda a comunidade bairradina, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento sobre a música etnográfica da nossa região, ou até mesmo para difundir a qualidade do kiwi e da kiwicultura da bairrada a que aqui já me referi anteriormente.

De igual modo, bem poderiam ter sido convidados pelo presidente da câmara, alguns dos que têm levado o valor do associativismo e do concelho por esse país fora e pelo estrangeiro, ainda que fossem uns clubes daqui perto.

Mas como nada disto aconteceu, o que há a concluir é que em quase duas horas de transmissão televisiva muito pouco foi feito e dito para que a divulgação e o engrandecimento do nome do concelho possam, objectivamente, ser considerados um êxito.

Como o que não tem remédio remediado está, o que há a dizer é que apesar do investimento feito, a estratégia promocional do concelho e dos oliveirenses, foi de vistas curtas, dirigida para o aglomerado de pessoas presentes no local, e não uma estratégia de longa distância que, a partir do mediatismo inerente à presença da televisão e da Volta a Portugal em Bicicleta no concelho, permitisse alcançar o objectivo de divulgar convenientemente e engrandecer condignamente o nome de Oliveira do Bairro.

Importa concluir dizendo que parte substancial deste texto integra uma intervenção por mim produzida na sessão da assembleia municipal de Oliveira do Bairro realizada em 26 de Setembro de 2007, com referência à passagem, nesse ano, da Volta a Portugal em Bicicleta pelo concelho.

A razão dessa repetição só tem, por isso, um único significado e uma única consequência: que o presidente da câmara pura e simplesmente ignorou essas chamadas de atenção, nada alterando no sentido de evitar que os nossos visitantes continuem a ter de Oliveira do Bairro a ideia de uma terrinha feia e simplesmente horrível de que é prova cabal o vergão de sugidade existente em cada um dos lados das plataformas da cascata excepcionalmente transformada em palco aquático, e não a cidade charmosa a que se aludiu na transmissão televisiva.

A par da apresentação do traje da vindimadeira de Águeda e da cantoria alusiva à ria de Aveiro, importa destacar a exibição do folclore, da música popular e ligeira e do hip hop, e ao realce dado às esteiras de atabua e bunho e ao IPSB.

A tarde televisiva foi, por isso, uma autêntica partida em falso da primeira chegada de etapa de uma Volta a Portugal ao concelho de Oliveira do Bairro, que é como quem diz, a Volta limitou-se a passar... sem nada restar.

Ou melhor: restou apenas aquela oportuna afirmação produzida já perto do final do programa, logo depois de se ter ouvido uma referência aos empresários e às zonas industriais, referindo que "os homens devem ser livres, sem ter negócios que lhes tapem a boca".

Foi o melhor de toda a tarde. Para uma sexta-feira 13, a sorte de alguns podia ter sido bem melhor!