domingo, 11 de julho de 2010

A VER A POLÍTICA PASSAR...

Semana rica a que finda, em que todos ficámos (ainda ) mais pobres. No bolso (quase todos) e na consciência (só alguns).
O que 78% dos portugueses anteviam, de acordo com uma sondagem publicada pelo JN, confirmou-se: vamos mesmo pagar mais impostos. Mas a notícia pode ter passado despercebida. É que se não fosse a deputada Assunção Cristas, do CDS-PP, questionar o Governo sobre a matéria, provavelmente só o saberíamos lá para Outubro, por altura do Orçamento de Estado.
À nova taxa de IRS, em vigor desde Junho (a tal retroactiva), soma-se, já nopróximo ano, um tecto para o valor global das deduções e benefícios fiscais via retenções na fonte. "As retenções na fonte são feitas logo em 2011 e depois o acerto é feito em 2012", explicou o secretário de Estado Sérgio Vasques.
Confuso? Em Janeiro, trabalhadores e pensionistas acima do terceiro escalão vão ser obrigados a reter mais imposto, ou seja, o salário volta a encurtar no final do mês. E lá para 2012 o Fisco acerta contas com o contribuinte. Depois das empresas, o Pagamento Especial por Conta chega aos singulares.
Pode o Governo dizer que já se sabia. Estava inscrito no outro PEC. Mas o pequeno pormenor de começar em 2011 ficámos a saber só na passada quarta-feira. Deve ser um novo estilo de política de proximidade...
No dia seguinte, ficámos a saber o que já toda a gente sabia. A "golden- share" do Estado na PT é ilegal. Contudo, dita a consciência governamental que o acórdão não é claro, pelo que a passagem das (mal)ditas acções para a CGD - estatal - é uma hipótese. Que é como quem diz, que se dane a Justiça. Uma única nota positiva. PT e Telefónica sentaram-se à mesa de negociações para encontrar uma solução para a Vivo (que era o que deveria ter sido feito desde o início, não fosse a hostilidade espanhola).
E fechamos com a não menos deslumbrante embrulhada das SCUT. A reter? Populações e empresas locais vão ter dez viagens mensais de borla! Não dá para crer em tamanha confusão. É uma borla aqui, um desconto ali, um troço isento acolá para, no final, se retalhar o país em PIB per capita - o que deverá cair no ridículo de se pagar ao quilómetro 10, mas não no quilómetro 11.
O país precisa de política, não de politiquices. De sentido de Estado, não de braços-de-ferro entre os principais partidos. É o que dá governar em minoria. É o que dá não saber ser Oposição. Pobres, mas de cabeça erguida, aos portugueses só resta esperar, ou pelo Presidente da República, ou por eleições.

Joana Amorim in http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1614794&opiniao=Joana%20Amorim