segunda-feira, 19 de julho de 2010

O TANGO DESTE VERÃO

Promete ser divertido o "tango a três", na feliz ironia de Luís Fazenda, que vai ser dançado neste Verão, após a proposta lançada por Paulo Portas à cara de José Sócrates, durante o debate sobre o estado da Nação. Só na aparência foi surpreendente a proposta de coligação a três (PS, PSD e CDS) sem José Sócrates. E só formalmente a invectiva foi dirigida ao governante socialista: olhando nos olhos de José Sócrates, Paulo Portas estava a falar para as bancadas ao seu lado.
Foi um golpázio à altura da tremenda rasteira que Pedro Passos Coelho lhe havia passado. Quando este fez constar que é sua intenção coligar o PSD com o CDS, mesmo tendo maioria absoluta, Paulo Portas sentiu a perfídia do beijo de Judas.
Ao prometer levar o CDS para o Governo, mesmo não precisando matematicamente do seu apoio parlamentar, Passos Coelho acabara de introduzir um dreno na base eleitoral de Paulo Portas. Os potenciais votantes no CDS, assim tranquilizados, passariam a estar disponíveis para reforçar eleitoralmente o PSD, para ajudarem a conseguir um estupendo dois em um: um Governo do PSD forte - e com o CDS.
Não é seguro que o "CDS dos interesses" seja hoje mais numeroso do que o "CDS dos princípios". Pelo menos não o aparenta no actual grupo parlamentar. E, na base eleitoral, a maior parte do "CDS dos interesses" há muito que se transferiu para o PSD - e para o PS! Apesar disso, Paulo Portas não podia arriscar uma recusa frontal da proposta venenosa de Passos Coelho - provocaria nas suas hostes surpresa e decepção dificilmente resgatáveis pelo esclarecimento.
Que fez, então? Foi pedir socorro ao PS, no único local onde o podia fazer. Em público. Como proposta para o estado da Nação. "Salvem-me deste casamento forçado em que o meu eleitorado vai todo no dote", foi Paulo Portas implorar ao PS, apesar do tom de bravata do seu discurso. E foi, sem olhar para os parceiros do lado, dizer-lhes que amor com amor se paga, à malfeitoria de Pedro Passos Coelho ele apresentava esta como resposta.
E fez mais. Tentou mostrar à bancada do PS que a sobrevivência desta não passa pela remodelação que anda a ser sussurrada nos corredores socialistas, que não é essa a saída.
Lançou a cizânia. Parte do PS ainda está convencida de que sem Sócrates não vai a lado algum e outra já se persuadiu de que com ele chega a nenhures. E o PSD ficou a saber que a sua tentativa de 'anschluss' do CDS teve resposta à altura. De través, oblíqua, diplomática, nas entrelinhas - mas resposta.

Oscar Mascarenhas in http://jn.sapo.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1621509&opiniao=Oscar%20Mascarenhas