sexta-feira, 16 de julho de 2010

ESTADO DISTO

O que se discutiu ontem, longamente, no Parlamento outra vez "central" (Jaime Gama, muito bem, dixit), não foi, obviamente, o estado da nação, que vive há mais de 800 anos, mas o estado disto, que é muito mais recente.
Isto, o "sítio", é apenas o estado a que isto chegou. Polícias sem meios, Estado a mais onde devia estar a menos, Estado a menos onde devia estar mais, autarquias faraónicas confundidas com autarquias exemplares, ministérios poupados e racionais misturados com ministérios inúteis ou redundantes, direcções gerais ágeis e produtivas, e secretarias de Estado superpovoadas e dispensáveis.
O estado a que isto chegou não é o "Estado social". Antes fosse. É o Estado que foi abocanhando pessoal político, que foi crescendo em gordura e perdendo músculo, que, apesar da desburocratização, dos computadores, da descentralização, das privatizações, da "racionalização", da "avaliação de desempenho", continua a deter meios, empresas, bens e despesas que lembram tempos de coroa e Terreiro do Paço, de império e empório.
"Isto" é também a sociedade e a economia.
Como no "doente imaginário", de Molière, aparecem, por um lado, médicos a inventar curas e doenças, e há uma quase viúva a desejar a morte do ancião. E uma empregada fiel que diz ao doente que o melhor é fazer-se de morto, para ver quem o ama.
Mas este doente é também real: as suas maleitas são conhecidas, mas todos tiram consequências diversas do assunto.
Onde uns olham um governo "ultraliberal", que desmantela as responsabilidades com os fracos, olha o PS uma "esquerda moderna e democrática", garante da civilização e da justiça, face à barbárie da "direita liberal" do PSD.
No meio de tudo, faltam os exemplos, e até os exemplos dramáticos.
O topo da pirâmide do poder ainda não percebeu que os escravos estão revoltados, e sobem as muralhas.

P.S.: Visita do MNE iraniano a Lisboa. Israel, através do seu dinâmico representante, protestou: os embaixadores existem para defender os interesses nacionais dos seus estados. O Governo português agiu como entidade que recebeu um pedido: limitou-se a ouvir o que o Irão tinha a dizer. Não convidou, nem encorajou. Quanto a Teerão, faz também o que pode: explica ao Mundo que quer mudar.
Outra questão é saber se o convence.