O peixe-espada gostava de ser espingarda, bazuca, metralhadora... Espada é que não.
- Está fora de moda, nas guerras de agora.
E perguntara aos outros peixes se peixe-metralhadora lhes soava bem. Eles, que o achavam um bacoco peixe taralhoco, diziam-lhe a tudo que sim, mas a rirem de troça. O peixe-espada é que não dava por isso, incorrigível na sua ideia de trocar a espada por arma mais actual. Que grande tolo!
- Quem poderá mudar-me o nome? - perguntava ele, a torto e a direito.
- Talvez a santola saiba - respondiam-lhe, só para despachá-lo.
A santola ganhara fama de sábia, vai-se lá saber porquê. E da fama tirava bom proveito.
Exposta a pretensão à santola, disse-lhe ela:
- Foram os homens que te deram, dantes, esse nome, a condizer com o teu feitio. Não vejo quem mais possa trocar-te o nome senão eles.
Afinal, à santola não faltava sabedoria.
- Então, como é que eu faço?
- Tanto não sei - respondeu a santola. - Não te aconselho a meteres-te numa dessas redes que, de vez em quando, eles lançam, mas a decisão é tua.
Está-se mesmo a ver o que o peixe-espada decidiu. Meteu-se mesmo numa das redes, onde já se debatiam outros peixes, que, evidentemente, ali tinham ido parar de má vontade. Cardumes de carapaus, sardinhas, sardas e chicharros. O único que ali estava muito feliz era o peixe-espada.
- Eles puxam a rede e, chegando lá acima, ao primeiro homem que encontrar exijo que me dê um nome mais moderno. Peixe-foguetão é que estava a calhar-me.
Quando os pescadores puxaram as redes e os peixes e peixinhos começaram a saltar no convés, um dos homens, vendo, no meio deles, o desgraçado herói desta história, exclamou:
- Que belo peixe-espada. É um espadão!
Mas o infeliz já não ouviu o elogio. E, mesmo que ainda estivesse vivo, talvez não gostasse.
Por António Torrado e Cristina Malaquias