quinta-feira, 29 de julho de 2010

ACREDITAR EM BRUXAS


Finalmente!!!”.

Foi com esta exclamação vocabular que José Sócrates iniciou a sua declaração sobre o fim da investigação do caso FREEPORT, que concluiu pela inexistência de qualquer irregularidade no licenciamento ambiental do empreendimento, em Alcochete, quando era ministro do Ambiente.

Durante a sua intervenção, José Sócrates referiu por diversas vezes que “os portugueses compreendem bem por que faço esta declaração”

Está cheio de razão!

Desde logo, os portugueses sempre souberam que a montanha deste processo iria parir um rato, pois foi a própria coordenadora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida quem, em Março de 2006, referiu que «O crime de corrupção, tal como está definido no nosso Código Penal, é impossível de punir», como pode ver-se aqui, tendo dito em Janeiro de 2009 que José Sócrates não estava a ser investigado, como pode le-se aqui, garantindo em Agosto de 2009 que não existia nenhum indício contra José Sócretas, como pode ler-se aqui, concluindo esta saga com uma piada de mau gosto ao dizer aqui que já em Fevereiro deste ano que com "com o primeiro-ministro tenho de exigir mais na prova"...


Pois é... é que se o investigado fosse um qualquer anónimo, bastaria um mero indício para que a acusação fosse por diante, indício esse que bem poderia ser a declaração do primo de José Sócrates a dizer que o primeiro ministro "conhecia Charles Smith e Manuel Pedro", como pode ler-se aqui.

Para os mais esquecidos, importa recordar que Manuel Pedro trabalhou na Equipa de Missão para a Protecção e Gestão Ambiental das Salinas do Samouco como assessor principal, até Março de 2001, altura em que o ministro do Ambiente era José Sócrates, o qual, como mediador do negócio Freeport, enviou um fax a José Sócrates, tratando-o por «tu» e pedindo-lhe desculpa por estabelecer o dito contacto via fax, fax este que foi apreendido pela Polícia Judiciária.

José Sócrates concluiu a sua intervenção recorrendo a um ditado popular:  “A verdade acaba sempre por vir ao de cima”.

Ora, se a verdade que envolve o pequeno mundo que gira em torno do processo FREEPORT está mal contada, a verdade a que José Sócrates de refere só pode ser esta: é que, apesar de o art. 82º do respectivo Estatuto vedar aos magistrados do Ministério Público em efectividade de serviço o exercício de actividades político-partidárias de carácter público, o que é certo é que a coordenadora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida, integrou a comissão de honra do candidato apoiado pelo PS, Mário Soares, às eleições para a Presidência da República, em 2006, como pode confirmar-se aqui.

E tudo isto aconteceu porque, como pode ler-se aqui, apesar de o Ministério Público dizer que importaria ouvir o primeiro-ministro, tendo mesmo elencado 27 perguntas a fazer-lhe, esta diligência foi "inviabilizada" porque vice-procurador-geral da República proferiu um despacho, no dia 4 do mês passado, em que fixou o dia 25 de Julho como o do fim do prazo para o encerramento do inquérito.

"Tendo em atenção este facto", e o disposto na lei do Conselho de Estado quanto à obrigatoriedade de obter autorização daquele órgão para ouvir o primeiro-ministro, os titulares do inquérito concluiram que "mostra-se, por ora, inviabilizada" a inquirição de José Sócrates e a realização das restantes diligências referidas, deduzindo-se assim o despacho final.

E depois ainda há quem não acredite em bruxas!